quinta-feira, janeiro 04, 2007

Jesus dos Santos

Em 2004, lecionei para Jesus. Em sala, cometeu alguns pecados, um deles, "matar" minhas aulas de Literatura. Estudar é chato. Ler livro em sala, mais ainda.
Mas Jesus sempre me respeitou. Entre nós, pelo corredor da escola, o papo rolava e foi assim que conheci, aos poucos, sua vida.
Após dois anos, retornei a vê-lo em janeiro de 2007. Sentado no pátio, Jesus me cumprimentou quando eu saía da escola. "E aí, professor?". Voltei e conversamos sobre a vida, a sua.
Quanto tempo, cara.
Faz algum tempo, professor.
Soube que você ficou preso no Oliveira Conde
É verdade, fiquei 1 mês e 15 dias.
Mas você nunca foi violento na escola, nunca me tratou mal.
Professor, eu sou pobre, isso é motivo para ser preso.
Na verdade, o que houve?
Meu irmão matou um cara, e a família do morto queria se vingar, porque o meu irmão acabou preso. Por isso, eu usava uma espingarda em casa para me defender. Mas a polícia bateu lá e pegou uns caras fumando maconha no fundo do quintal. A PM bateu em todo mundo e pegou a arma.
Você chegou a matar alguém na sua vida?
Claro que não, professor. Eu só tinha a arma para a minha defesa.
Você roubou alguma vez?
Não.
E depois?
Os policiais me bateram, me levaram para a delegacia e, na delegacia, fui preso por formação de quadrilha, mas eu nunca fiz parte de quadrilha. Os policiais aumentaram, disseram o que não era verdade, os PMs mentiram.
E as porradas?
Fizeram exame em meu corpo, mas ficou por isso mesmo. Só que depois, eu estava no presídio e lá levei muita porrada logo que entrei e depois levei mais.
E como era a tua cela?
Eu fiquei em um espaço de 2x5, onde havia 25 pessoas, é o cubículo do corretivo.
E hoje?
Moro com meus pais.
Quanto teu pai recebe?
Uns R$ 500.
Vive-se com R$ 500?
E pobre vive, professor?