sábado, março 28, 2009

Princesinha perdeu o encanto

Ex-companheira de luta de Chico Mendes
diz que Xapuri passa por seus piores dias

De Gilberto Lobo

Dona Francisca Macedo, de 43 anos, é uma senhora batalhadora e, com todas as dificuldades oferecidas nos anos de combate à expansão pecuarista pelos quais passou Xapuri, cidade símbolo da luta pela preservação do Meio Ambiente, ainda conseguiu ingressar na Universidade Federal do Acre (Ufac), tornando-se bacharela no curso de Geografia.

A ex-secretária do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, participante ativa dos empates da década de 1980, uma das companheiras de luta do ex-líder seringueiro Chico Mendes, também conclui pós-graduação em educação ambiental.

Ela denuncia a situação de abandono pela qual está passando “a princesinha do Acre” e, principalmente, o bairro Sibéria.

Se as coisas estavam ruins antes, agora estão piores. Nunca tivemos tão sozinhos”, lamenta Francisca Macedo.

A professora explica que a Estrada Petrópolis, via de escoamento de vários seringais, está intrafegável, impossibilitando os produtores rurais de levar a produção ao comércio da cidade.

Voltamos ao tempo em que usávamos animais para o transporte. Não há carro para nada, nem para levar os doentes ao hospital.

Lixo e lama

Outro problema denunciado por Francisca é a falta de limpeza pública no Centro de Xapuri e no restante dos bairros. Segundo a ex-secretária de Chico Mendes, o lixo se mistura com a lama das ruas sem asfalto. Em frente às escolas, há depósitos de lixo da prefeitura virados. “Moro no Sibéria, mas trabalho no Centro, passo por esse tipo de coisa todos os dias.

Só a dengue é quem lembra da gente. Os casos aumentam a cada dia. Nos postos de saúde não há remédios. Meus filhos pegaram dengue e tive que comprar os remédio. Não tem nem aqueles pacotinhos de soro”, desabafou dona Francisca.

A professora diz que a população pede uma solução à prefeitura, mas o atual prefeito explica apenas que não há dinheiro. “Ele só vive com choro, dizendo que a prefeitura está falida e não fala de solução.

Na última reunião que tivemos com o prefeito, ele não mostrou nenhuma saída. E se antes estava ruim, agora está pior. Essa é a nossa pior fase. Só queremos que o atual prefeito faça alguma coisa pela gente”, ressaltou Macedo.

Nesse período de chuvas, os extrativistas xapurienses não podem cortar seringa e nem coletar castanha. O resultado é a falta de dinheiro e condições mínimas de sobrevivência, de acordo com a especialista em educação ambiental.