quarta-feira, maio 30, 2007

O Erotismo, de George Bataille



Época em que locadora escreve erotismo quando deveria ser pornografia, o livro de Bataille retira de nós a gosma de ignorância sobre o deus Eros.

Para quem deseja salvar a sua alma a fim de ficar perto do Pai, não pode ir com a mala cheia de vulgaridade, porque o Céu é exigente.

Amanhã, na aula sobre Barroco, tocarei no conceito erotismo, porque, por meio da Literatura, precisamos refletir sobre conceitos e não apenas reduzir a aula a características de época.

Em Literatura, a palavra clama para ser pensada.

Palavras dele, Bataille.

"O erotismo é abordado como uma experiência ligada à vida, não como objeto de uma ciência, mas da paixão, mais profundamente, de uma contemplação poética."

Ainda que seja uma aula de pré-vestibular, não posso admitir a pobreza da Literatura com seu reducionismo apostilado. Alguns professores de departamentos de letras são responsáveis por isso quando selecionam, por exemplo, dez livros.

Bem, um dia, quem sabe, escreverei sobre isso.

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Vidas Secas, Graciliano Ramos


Frei Beto equipara a ideologia às lentes dos óculos. Não percebo, é invisível, mas a ideologia está lá.

Não vejo a realidade com meus olhos, porque, antes, as lentes filtram-na. Meu olhar, portanto, alienado, não sou eu. Meu olhar, as lentes.
A situação piora quando elas pertencem a uma câmera de TV. São minhas pupilas.
Ora, entre mim e as vidas de Fabiano e de Sinhá Vitória - personagens de Vidas Secas -, a presença dele conduz meu olhar: narrador.
O que leio depende dele. O modo-palavra como narra é o modo-palavra como olho.

"Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. (...)".

O romance, em suas primeiras linhas, apresenta um narrador que visualiza, antes, a terra ("na planície avermelhada"). O espaço. Faz sentido. Esse narrador olha para Fabiano e Vitória como extensões do meio, vidas humanas geradas por um solo seco e, uma vez submetidas ao espaço árido, suas falas também são secas.
Se seca é a palavra de Fabiano, sua reação à morte do filho mais velho não emociona o olhar do leitor, porque o narrador, em terceira pessoa, neutraliza o sentimento paterno para ele, o narrador, mostrar a morte de forma impessoal.

"(...). Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. (...)." É o narrador que afirma, não o pai.
Como escreve Sarte, onde existe o narrador realista ou naturalista, a vida não germina. Isso se opõe ao texto A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna.
Eu, na condição de leitor do mundo, não olho a vida por meio de narradores realistas ou naturalistas. Eles esmagam o espírito humano, isto é, ela: a inquietação.