quarta-feira, julho 30, 2008

A uma reitora

De Aldo Nascimento
A Ufac a uma acreana

Na semana passada, meus olhos reviram folhas processuais, um documento forjado por alguns falsos intelectuais da Universidade Federal do Acre. De 1992 a 1997, lecionei no Departamento de Letras e, antes de sair pela porta da frente, contratei os serviços dos advogados Gomercindo Clovis Garcia Rodrigues e Carlos Antônio Brito Marques para limpar minha pasta funcional.

Nessas folhas, registram-se absurdos, acusações insólitas, arbitrariedade de velhacos que se julga acima de procedimentos equânimes das instituições. Para se ter idéia dessa comicidade barnabeniana, fui processado por lecionar A República, de Platão, em Literatura Infantil.

Nem todos, entretanto, igualam-se na Faculdade de Letras, porque alguns professores não são doutores para tramar. Existem acreanos com elevado espírito público e com um caráter que dignifica o gesto humano. Poderia citar alguns nomes, mas, em período eleitoral, reconheço o nome da professora-doutora Olinda Batista Assmar.

Mas quem sou para escrevinhar sobre a futura reitora da Universidade Federal do Acre? Na época de processo forjado, um mero professor substituto, algo sem importância, uma individualidade que poderia ter sido desdenhada pela professora-doutora Olinda, porque, com seu nome consolidado na Universidade Federal do Acre, sua assinatura poderia estar em documentos contra mim; entretanto, ao procurar seu nome em folhas desse passado, eu não o encontro.

Não existe assinatura de Olinda Batista Assmar em nenhum processo contra mim. A pergunta é pertinente: por quê? Ora, certos doutores não perdem tempo tramando com a súcia; certos doutores pesquisam, produzem conhecimento. Olinda tem legado. Em seus 30 anos de Universidade, essa dama acreana publicou mais de 104 títulos em livros, em anais de congressos, de simpósios, de seminários, de mesas-redondas, de conferências. Seu título de doutora, portanto, não é ornado com plumas e paetês.

Seu título, no entanto, torna-se menor quando comparado ao seu caráter. Ao falar, não sentimos o mau hálito da arrogância, da prepotência, mas a expressão de uma funcionária pública que não trama com a finalidade sádica de perseguir colegas de profissão e muito menos se submete a intrigas. Ela não usa máscaras, olha no olho e diz.

Candidata à reitora em outra oportunidade, dediquei-me à sua campanha e muito vezes ouvi de alguns tolos que Olinda pertencia à direita. Conheço pessoas de esquerda que não têm a moral e o zelo pela coisa pública como Olinda Batista Assmar.

Hoje, mais de dez anos depois, escrevo este texto como forma de reconhecer uma ex-colega de trabalho que, em mais de uma assembléia departamental, colocou-se não a favor de mim, mais a favor de procedimentos corretos dentro de uma instituição de ensino superior. Sabemos que uma súcia de barnabés não pode se apropriar de parte de uma universidade pública como se fosse o quintal de sua casa ou o terreiro de quimbanda de um babacalorixá.

Sei que este texto é muito pouco, mas minhas palavras não são pequenas como são os canalhas. Não cheguei a este Estado ontem. O tempo não pára. Sou menos desconhecido do que 16 anos atrás. Hoje, jovens que foram meus alunos no ensino médio estudam na Universidade Federal do Acre e, quem sabe, lêem minhas palavras agora. A eles, peço que votem na chapa Olinda-Pascoal como gesto que reconhece dois doutores que buscam o poder não como vaidade pessoal, mas buscam o poder para servir melhor à sua Pátria, ao seu Estado e aos seus semelhantes.

Ronda Gramatical

Em nossas redações de jornal, copia-se o que está escrito em além-livro. Se na Globo escreve-se “super cine”, nosso jornalista copia. Se está escrito “pronto socorro”, ele copia na matéria. Se compra um xampu com “anti-caspa”, ele copia “anti-caspa”. Se está escrito “Mega-Sena”, ele copia “Mega-Sena” na reportagem. Se está escrito “stand”, ele copia. Se está escrito “skate”, ele repete em seu texto jornalístico. Se abastece o carro no “auto posto”, o repórter leva essa grafia para o jornal. Se vai preparar um misto quente em um “mini grill”, reproduz como está escrito no aparelho. Isso significa que somos pautados graficamente por produtos de supermercados, por casas lotéricas, pela TV, pelas palavras espalhadas nas ruas. Na condição insignificante de péssimo revisor, queimei minhas gramáticas. A escrita correta encontra-se nas casas lotéricas, no xampu (ou será shampoo?).