sexta-feira, maio 29, 2009

Ronda Gramatical

Edvaldo Gil
Sousa Gomes












Meu amigo, a bruxa da tua sogra está solta e Branca de Neve foi presa quando aliciava sete menores, os anões. Acabaram-se as fantasias, a coisa é real, está começando Ronda Gramatical.

Ontem, à tarde, a Polícia Ortográfica esteve na Câmara de Vereadores de Rio Branco para colocar atrás das grades o açeçôr de inprênça da parlamentar Ariana Ariane Cadaxo.

Em sua matéria, ele registrou "antiprojeto" quando deveria ter sido "anteprojeto". Segundo capitão da PO, sr. Pasquale, esse crime não ficará impune.

"Quando chegamos, interrompemos a sessão e, na tribuna, metemos porrada no meliante gramatical e, depois, nós o conduzimos ao presídio Celso Cunha. Na cadeia, ele escreverá por dia mil vezes 'não devo nunca mais escrever antiprojeto, o correto é anteprojeto'. Sem liberdade condicional, ele foi condenado a dez anos de prisão."

Agora é hora dos anunciantes. Meu querido presidiário, se você não sair da cadeia tão cedo, as Casas Penitenciárias Bandido Bom é Bandido Morto tem uma boa promoção - compre xampu Carcerário e deixe seus cabelos, pelo menos, soltos.

MEC estabelece as regras do novo Enem

De Simone Chalub

Inscrições para a prova começarão em 15 de junho, e provas estão marcadas para 3 e 4 de outubro.

Os estudantes que participarão do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) enfrentarão 10 horas de prova nos dias 3 e 4 de outubro.

Serão 180 questões objetivas de múltipla escolha, 45 em cada uma das 4 provas: linguagem e códigos, matemática, ciências humanas e ciências da natureza.

O edital, com os detalhes da prova, foi publicado ontem no Diário Oficial da União. A previsão, anteriormente, era de 200 perguntas, mas foi alterada a pedido de reitores, preocupados que a prova fosse muito longa.

As inscrições começarão no dia 15 de junho e irão se encerrar em 17 de julho. O processo será feito exclusivamente pela internete no sítio do Enem. Pelo menos 35 das 55 universidades federais já decidiram usar o exame em seus processos seletivos.

Além das questões de múltipla escolha, o aluno precisará escrever uma redação.

Segundo o edital, o texto deverá ser estruturado na forma de prosa do tipo dissertativo-argumentativo sobre tema na área social, científica, cultural ou política.

quinta-feira, maio 28, 2009

Açeçôr di Inprênça

O governo do Estado deveria ser o primeiro a ser preocupar com a língua portuguesa, porém a Agência Nacional do Acre importa-se só com a transmissão do conteúdo, a forma não tem importância. O português não passa de detalhe. Deveria, pelos menos, haver uma padronização mínima.

E os açeçôres di inprênça? Ganham muito bem para escrever muito mal. Leia esta:

"A vereadora Ariane Cadaxo (PC do B) esteve reunida na última quarta-feira, com o representante institucional da Eletroacre, Celso Mateus, em busca da parceria da empresa em relação ao antiprojeto sobre coleta seletiva de lixo, que ela defende na Câmara de Rio Branco."

Para o açeçôr não passar vergonha, A TRIBUNA publicou "anteprojeto". Eu não deveria ter retificado, porque, no final da matéria, registra-se "assessoria". O revisorzinho retifica, e o açeçôr ganha a fama.

"Antiprojeto" significa dizer que a vereadora é contra ela mesma. Além disso, o texto está confuso. Melhor ou menos pior seria:

A vereadora Ariane Cadaxo (PC do B) reuniu-se na última quarta-feira com o representante da Eletroacre, sr. Celso Mateus, para buscar uma parceria com a empresa porque o anteprojeto da vereadora defende na câmara de Rio Branco a coleta seletiva do lixo.

O PT de Brasileia

Ainda prefiro os erros do PT aos erros do Dem ou do PMDB. Não queria os erros, mas, entre um e outro, eu voto em minha contradição política.

O jornalista Freud Antunes elaborou uma matéria. Leia.
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TCE abre processos para multar quatro gestores

Os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) decidiram em sessão da manhã de ontem processar quatro prefeitos por irregularidades que vão desde a falta de divulgação dos gastos até a suspeita de pagamento extra no salário do próprio gestor.

O caso mais grave foi constatado na prefeitura de Brasileia, onde a relatora Dulcinéia Benício encontrou a gestora Ana Leila Galvão recebendo o salário de professora, além de uma parcela a mais por ser a chefe do Executivo.

Na defesa, a prefeita justificou que por lei poderia optar pelo recebimento do percentual como administradora pública, recebendo também a remuneração de professora, o que não foi acatado pelos membros do TCE, que alegaram que não há legislação que permita o repasse de dois salários.

Mesmo com o problema encontrado, os conselheiros decidiram aprovar com ressalva a prestação de contas de 2007, mas uma equipe de auditoria deverá constatar qual foi o valor pago a mais para a prefeita, que não enviou o demonstrativo de valores.

Nos outros três casos, os prefeitos de Mâncio Lima, Cleidson Rocha; de Senador Guiomard, James Pereira; e o de Santa Rosa do Purus, José Altamir Taumaturgo Sá, não comprovaram a publicação dos relatórios resumidos de execução orçamentária.

Se constatada a irregularidade, os gestores serão obrigados a pagar multas.

quarta-feira, maio 27, 2009

Livros & Autores

1ª BIENAL DO LIVRO NO ACRE
texto de Vagno DiPaula

A partir de amanhã, às 19 horas, na Praça da Revolução, estendendo-se até 7 de junho, um burburinho cultural invade a capital do Acre. É durante este período que acontece a 1º Bienal da Floresta do Livro e da Leitura, o maior evento literário já realizado em nossa cidade. Para os nove dias, estão programadas diversas ações ligadas à literatura, como debates, mesas-redondas, oficinas, conferências e palestras, mostra de cinema e bate-papo com os escritores.

Participam da Bienal importantes nomes, como o renomado escritor Ignácio de Loyola Brandão, o professor Fábio Lucas (apontado como um dos três críticos literários mais expressivos do país - ao lado de Antônio Cândido e Wilson Martins) e Luiz Galdino (escritor paulista de Caçapava/ SP, autor de cerca de 40 títulos e vencedor de quase 30 premiações), além de escritores locais como Jorge Tufic (considerado um dos principais poetas da moderna literatura amazonense) e Márcio Souza (escritor, dramaturgo e diretor do Sesc – Teatro Experimental do Sesc do Amazonas -, grupo teatral que foi pioneiro na luta pela preservação da Amazônia). Viva a cultura!!!

terça-feira, maio 26, 2009

Um bom texto do caderno Mais!

MALANDROS UTÓPICOS

ENTRE A IDEALIZAÇÃO DO ESTRANGEIRO E A GLORIFICAÇÃO DO MODO DE VIDA NACIONAL, BRASILEIRO CIRCULA ENTRE A ESPERANÇA DE MUDANÇA E A REALIDADE DAS MAZELAS POLÍTICAS E SOCIAIS

RENATO MEZAN
COLUNISTA DA FOLHA

A "aurora da vida", evocada num poema famoso de Casimiro de Abreu, esteve em evidência nos últimos dias, porém deslocada para um pouquinho mais tarde: três notícias se referiam a crianças de nove anos, e, embora ligadas a assuntos bem diversos, todas provocaram alguma celeuma.

A primeira foi a declaração do jogador Ronaldo sobre os motivos pelos quais prefere que seu filho cresça em Madri: "Vejo aqui crianças da idade dele com um palavreado adolescente, palavrões até. [Meu filho de nove anos] é uma criança doce, educada, praticamente um europeu. (...) Prefiro que tenha amiguinhos europeus, sem a malandragem dos amiguinhos brasileiros." "O nível mental das pessoas que assistem à TV no Brasil é por volta dos nove anos", julga o ator e dramaturgo Miguel Falabella. "Um jovem francês lê 200 vezes mais que um brasileiro. Tem piadas e diálogos que as pessoas não entendem, porque não têm a informação." O terceiro fato foi a escolha de um livro em quadrinhos para os alunos da terceira série do ensino fundamental (oito a nove anos) da rede pública paulista, criticada porque algumas histórias contêm palavrões e alusões de natureza sexual.

Fato e opiniões
Por sua vez, vendo nela só moralismo e hipocrisia quanto à realidade vivida pelas crianças dessa idade, alguns reprovaram a retirada do título da lista fornecida aos estudantes... Que pensar de tal coincidência? Em primeiro lugar, que se trata disso mesmo - uma coincidência, ou seja, algo fortuito, que poderia não ter ocorrido dessa forma.

Se a falha quanto ao livro tivesse sido descoberta uma semana antes ou se Falabella tivesse situado o nível intelectual dos telespectadores na faixa dos seis ou dos 11 anos, não se veria vínculo nenhum entre as três coisas. Além disso, a última é um fato, enquanto as duas primeiras são opiniões; fato, aliás, com o qual a Secretaria de Educação de São Paulo lidou de modo adequado, reconhecendo o erro e tomando as providências que se esperariam.

Realmente, a obra não é apropriada para crianças. O autor de uma das histórias, Caco Galhardo [quadrinista da Folha], explicou que pretendia apenas "tirar sarro" de uma mesa-redonda de futebol. "Quem a selecionou não leu o livro", declarou. É difícil não concordar com o cartunista, mas nem por isso se vão proibir os quadrinhos para adultos ou condenar as editoras que os publicam.

O que ocorreu foi negligência por parte de um funcionário do terceiro escalão, rapidamente reparada por seus superiores. Ponto final. A frase de Miguel Falabella se coloca em outro contexto: a péssima educação oferecida pelo Estado aos pequenos brasileiros, cuja consequência óbvia é o baixo nível intelectual da nossa população.

De fato, os jovens europeus leem mais que os do Brasil - embora lá também se ouçam queixas de que a escola pública vem piorando ano a ano. O padrão abominável da televisão nacional tampouco contribui para minorar o problema, mas isso não se deve a um vício de natureza do meio: depende dos responsáveis pela programação escolherem bons roteiros e os produzirem com critério.


Prova de que pode existir vida inteligente na televisão (e não só nos canais ditos culturais) é a qualidade dos diálogos da série "House" assim como o desempenho dos atores e a excelência da pesquisa técnica que subsidia cada episódio - e se poderiam citar outros (raros) exemplos.

"Doce" e "educado"
Restam os comentários de Ronaldo. A idealização que equipara "europeu" a "doce" e "educado" terá algum fundamento? Talvez o tenha na experiência do jogador: não conheço o suficiente da sua biografia para avaliar isso, mas posso imaginar que no Velho Mundo o filho de um atleta pago a peso de ouro circulasse num ambiente bem menos perigoso e violento do que aquele que cercava seu pai na zona norte do Rio.

Os brasileiros
Costumamos nos deslumbrar com algumas características da vida na Europa que contrastam agudamente com nosso cotidiano: civilidade, limpeza das ruas, eficiência nos serviços públicos, organização em geral.

Na mesma entrevista, Ronaldo se refere ao mundo do futebol e cita aspectos em que os europeus nos superam. Sem masoquismos desnecessários, não vejo mal em reconhecer que determinadas condições são melhores lá do que aqui, mas também é verdade que "doce" e "educado" nem sempre rimam com "europeu". Ou alguém ignora que o velho continente foi palco de inúmeras guerras, perseguições religiosas e políticas, discriminações, fogueiras, torturas e crueldades? E os conquistadores que de lá partiram se mostraram tudo, menos doces para com os índios, africanos e asiáticos com os quais as navegações (e depois o colonialismo) os puseram em contato.

Isso dito, convém evitar a idealização inversa, que conduziria a glorificar a brasilidade e fechar os olhos para as mazelas do nosso país. Outro tema em foco nas últimas semanas o comprova: a reação oposta diante dos desmandos dos políticos no Brasil e na Inglaterra.

Enquanto o presidente da Câmara dos Comuns, Michael Martin, se viu forçado a renunciar devido às pilantragens dos seus colegas, temers e sarneys agem de modo a convalidar o que disse o deputado Sergio Moraes (PTB-RS), cuja frase imortal ("estou pouco me lixando para a opinião pública") deveria adornar o estandarte do Congresso, do mesmo modo que "ordem e progresso" figura na bandeira nacional.

Truculência
E não é apenas Sua Excrescência que assim pensa. O Estado brasileiro tem uma tradição de truculência e malandragem na relação com os governados. Com demasiada frequência, seus funcionários consideram natural que o dinheiro dos impostos financie privilégios indecentes para eles, para suas famílias e para seus apadrinhados; a cultura do "todos fazem" e do "deixa disso" impregna muitos setores da sociedade civil, inclusive o das concessionárias de serviços públicos e das empresas em geral.

É o que sabem todos quantos já tentaram falar com os SACs (serviços de afronta ao consumidor), hipocritamente colocados atrás de muralhas telefônicas cujo objetivo evidente é fazer com que o reclamante desista da sua pretensão.

A conclusão é que as afirmações de Ronaldo e Falabella, embora generalizadoras demais, contêm algo de verdadeiro - e quem sabe por isso incomodaram tanto. Não é preciso endossá-las por completo; se servirem como alerta, terão contribuído para nos tornar mais veementes na defesa dos nossos direitos. Afinal, às vezes as aves que lá gorjeiam são mesmo mais afinadas que as de cá.

RENATO MEZAN é psicanalista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de SP. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

Cardioacre

A iniciativa privada gosta de contar vantagem sobre o setor público. "Somos mais eficientes", compara-se. Não é o caso da Cardioacre, uma clínica particular de Rio Branco. Sua secretária alterou meu batimento cardíaco.

Na primeira vez, ela marcou a consulta para um dia. Quando o dia marcado chegou, só fiquei sabendo que não era mais o dia marcado dentro da clínica, ou seja, a secretária não telefonou para avisar antes de eu gastar dinheiro com passagem de ônibus.

Ela então marcou a consulta em uma terça-feira, uma semana depois. Quando cheguei à clínica, soube que o médico não atende na terça-feira. Ela diz então que telefonará para marcar outro dia. Um mês depois, ela não telefona.

Vou à clínica. Ela marca para 27 de maio. No dia 26 de maio, a secretária telefona: "Olha, foi cancelada a sua vinda amanhã, estou remarcando para 25 de junho, obrigada por sua compreensão."

Desde o dia em que essa secretária cruzou com o meu destino, meu coração não tem sido o mesmo. Acho que colocarei o nome dela numa encruzilhada.

Se fosse no setor público...






segunda-feira, maio 25, 2009

Que o Ventoforte volte um dia...

No dia 23 de maio, sábado, às 20h30, uma caravela aportou na escola estadual Heloísa Mourão Marques para que alunos embarcassem. Partimos às 20h35. Após uns minutos, o casco atracou-se em porto inseguro, mas um Ventoforte, vindo do norte, estufou as velas para lançar os navegantes em mares inquietos da imaginação.

Nossas pupilas, entregues às sombras do teatro, dilataram-se para degustar o texto apaixonante de Ariano Suassuna e de Ilo Krugli.
Ventoforte varreu os entulhos da realidade para, em seu lugar, o da realidade, colocar o surpreendente, o inesperado; para colocar lacunas, vazios que deverão ser preenchidos por nossa interpretação.

Apaixonei-me pelo grupo. Quem dera que o teatro tomasse de assalto espaços urbanos, espaços públicos, ruas de Rio Branco. Quem dera que houvesse menos igreja e mais arte teatral.


A nova política

Crise econômica abre espaço para questionar
legitimidade das instituições políticas

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA

Para entender a crise atual do sistema capitalista de produção convém insistir no seu caráter automático. A crise se aninha na natureza da ação socioeconômica que repõe o capital.

Os agentes operam no mercado imaginando que suas ações sempre serão contrabalançadas por ações alheias, atuam graças à mediação do dinheiro que, por si mesmo, aparece como se tivesse a virtude de transformar mercadoria em preço e preço em comprador.

Dada essa equação, a economia cresceria indefinidamente.

A crise revela a perversidade desse processo e recoloca a questão do Estado nesse movimento de reposição.Mas qual Estado?Se deixarmos de lado esse automatismo, simplesmente iremos procurar agentes responsáveis pela crise, como se todos eles não tivessem culpa no cartório.

O desafio não é encontrar novos mecanismos de mercado, mais sadios e consistentes, mas instituir órgãos reguladores do funcionamento dos vários mercados capazes de legitimar seu funcionamento, isto é, assegurar que funcionem em vista do bem-estar e do bem-ser da população.

Ilusão em xeque
A crise revela o caráter social do capital e indica como ele precisa ser reestruturado de um ponto de vista político.

Mas política radical. Em que sentido? Está posta em xeque a ilusão de que a luta política deva recorrer a um fundamento comum consensual, como se o ser humano fosse naturalmente social e atuasse a partir dessa sociabilidade primeira.Basta um olhar crítico sobre a política internacional contemporânea para que se perceba que os conflitos, por serem tão radicais, podem ser identificados com um confronto de civilizações.

Não é assim que vejo, pois as populações querem participar de uma forma de vida pós-industrial.Assim sendo, o consenso, a legitimidade das decisões, passa a ser construído e resulta do esforço de cada parte em vista de manter a si mesma segundo o que pretende ser, mas reconhecendo a possibilidade de persuadir e de ser persuadida.

Hoje a legitimidade se faz construindo instituições legitimadoras. Neste início de maio se realizou em Grenoble [França] um fórum reunindo mais de cem pesquisadores para discutir a democracia em nível mundial. Foi organizado por Pierre Rosanvallon, que acaba de publicar "La Légitimité Démocratique" [A Legitimidade Democrática], um excelente livro, e conta com a participação importante de Claude Lefort.

Todos sublinhando que a democracia é sistema aberto, sempre se reinventando, mas que, nos dias de hoje, somente se torna legítima na medida em que se associa a instituições capazes de se tornarem imparciais diante de conflitos, refletir sobre seus efeitos e não perder contato com as várias populações interessadas. É preciso ir além do bom funcionamento dos procedimentos eleitorais, reconhecer o caráter global das políticas econômicas e a necessidade de políticas sociais compensatórias.

Crise evidente
Note-se que não são apenas os franceses que estão colocando essas questões -elas se impõem na Alemanha, na Inglaterra, nos EUA. Enquanto eles discutem os desafios de uma democracia pós-eleitoral, assistimos à perda de legitimidade de nosso processo eleitoral, enfim, do sistema de representação.

Nosso Estado cresce sem que seja nem mesmo posta a questão do caráter democrático de suas decisões. A crise no Legislativo é mais evidente. Quando seus membros se confessam imorais, quando arrombam os cofres públicos, quando propõem novas regulamentações que não passam de máscaras para manter antigos privilégios, estão simplesmente evidenciando e velando a crise sistêmica no processo de representação e de legitimação.

Não é de hoje que saliento a necessidade de pensar a moralidade pública no contexto de inventar novos parâmetros, por conseguinte, de quebrar até mesmo antigas regras morais para que novas se estabeleçam. Nunca imaginei, entretanto, que políticos viessem confessar sem pejo que pouco lhes importa o lado moral de suas ações, visto que, mesmo se mostrando sem caráter, continuam a receber o voto popular.

Há melhor prova da ilegitimidade do sistema? Nessa mistura entre o público e o privado, não é o caráter democrático da instituição que está sendo posto em xeque? O popular nem sempre é democrático, isso já sabemos por experiência própria. Se não há preocupação com a democracia interna, menos ainda se pensa nas dificuldades de estabelecer um sistema democrático controlando os mercados.

Já que nos contentaremos com um Estado grande (ou inchado?), importa-nos apenas o controle externo que permita nosso crescimento. Por aqui o importante é fazer de conta que se é eficaz, seja lá em qual domínio. Onde estão, porém, as transformações das burocracias do Estado que tragam para o mundo essa ideologia da eficácia? Diante das pressões da mídia e da insatisfação popular, o Legislativo requenta propostas de reforma política.

Mas não vejo em nenhuma delas uma preocupação de aprofundar a democracia, de melhorar o sistema representativo a partir dos obstáculos e dos erros do jogo de poder atual. Lista fechada Em tese, a proposta de eleições em lista fechada reforça o sistema partidário.

Mas hoje não equivale a reforçar a corrupta burocracia partidária? Em contrapartida, o simples voto nominal não liquidaria uma possível estruturação dos partidos? Não há espaço para discutir a fundo todas as propostas, mas creio que uma análise superficial mostra que, ao invés de visar o aprofundamento do sistema democrático, tratam sobretudo de mudar no detalhe e no imaginário para que o essencial não seja mudado.

O processo de representação nasce nos municípios. A Constituição de 1988 fez a loucura de transformá-los em órgãos federativos; depois de criados, se mantêm, mesmo quando são organicamente deficitários e inadimplentes. Grande maioria deles está nessa situação. Precisam, então, para subsistir, de ajudas externas, estaduais, principalmente federais. É o primeiro passo do toma lá dá cá. Formam assim a matéria-prima da corrupção política do país. Não é à toa que não se fale disso.

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP
e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
Escreve na seção "Autores", do Mais!.

Ventoforte que varre tolos, superficiais

Encontrei este texto na revista virtual Bacantes.

"
Se o mundo fosse bom, o dono morava nele
"
por Juliene Codognotto

Uma visitinha pro Ariano

Música, máscaras, bonecos, gente. Na peça Se o mundo fosse bom o dono morava nele, o Ventoforte pega emprestada uma história de Ariano Suassuna pra brincar de teatro com ela (desnecessário). E brinca mesmo.

Tudo que se vê no palco durante duas horas e meia de peça é uma grande brincadeira usical que tem a cara do grupo e, o mais importante, a cara dos “dias de hoje”. Ao adaptar A pena e a Lei, obra original de Suassuna, Ilo Krugli incluiu - além da música, das máscaras, dos bonecos, e do contato próximo com gente alegre já citados - um prólogo e um epílogo, que aproximam a narrativa nordestina de 1959 de questões que estão hoje em todo lugar.

Há personagens divertidíssimos nas três partes dessa história, e quem reina no universo de Suassuna é Benedito, um negro esperto que se dá bem usando sua inteligência. Não, não é João Grilo, não, é Benedito mesmo.

No entanto, apesar de o rapaz chamar a atenção com sua malandragem (e o intérprete com sua voz e expressão corporal), o Ventoforte está falando mesmo é do dono do “Mamulengo”, o Cheiroso, que administra - por assim dizer - um teatro de bonecos.

Não vou contar aqui as histórias de Suassuna, pois elas são divertidas justamente pelas surpresas que causam com as quebras de repetições - que lembram gags de palhaço. Vou contar uma história de prólogo e epílogo. Um história de visão crítica do mundo por meio da fantasia, que tem início com um cutucãozinho na TV.

Quando a peça começa, está sendo gravada uma minissérie da Rede Globo - O Auto da Compadecida, que também virou filme, lembra? - no fim da rua. Então, Cheiroso explica que na TV não tem ação, eles até gritam “ação!”, mas quando o sujeito age mesmo, mandam cortar.

Daí pra falar da questão financeira é um pulo, afinal, a estrutura e os aparatos técnicos que a Globo tem pra brincar com Suassuna nem se comparam aos do Ventoforte, que já chegou a interromper peça por conta da chuva.

Mas não é preciso detalhar as diferenças, há outros recursos cênicos pra evidenciar isso de forma simples: apagam-se as luzes. “Será que não pagamos a Eletropaulo?”, se pergunta o próprio Ilo Krugli, ainda na batina do padre Antônio, personagem do segundo episódio, mas agora no papel dele mesmo.

E então, sob luzes de emergência, o público é levado para um outro ambiente onde serão aproveitados os refletores que a Globo esqueceu no fim da rua pra suprir a falta de luz do Mamulengo.

No teceiro e último episódio, os personagens de Suassuna fazem o julgamento de Deus (ou de Jesus, ou do Espírito Santo, não tenho muita certeza. Fiz catecismo, mas sempre confundo os três), por sugestão de Benedito, e acabam julgando a vida e a continuidade dela. Eis que entra Ilo Krugli, para um epílogo.

“Essa cena é improvisada mesmo. Pode falar, pode perguntar”, ele diz. Ao fundo, os personagens de Ariano, expostos. À frente, Ilo, prometendo contar-nos o destino deles e revelando que a maior parte migrou pro sudeste e pro sul.

A participação de Ilo é tema à parte, já que, como disse o Fabrício, ele é a própria quebra da quarta parede. Está lá, presente, vivo, ao mesmo tempo que parece um bonequinho de corda. Aquele é o espaço do jogo, da diversão e não há textos ou “escrituras” que o impeçam de improvisar e confundir, de revirar as cenas e fazer com que os próprios atores parem para rir dele.

Há que se dizer que o jogo cênico fica meio embaralhado e as cenas parecem, muitas vezes, uma grande bagunça impossível de entender. Fora da lógica, fora da “arrumação” com que estamos acostumados. Mas tudo isso faz parte da brincadeira e, sobretudo, de uma postura profissional de não se levar a sério. Já na história, a vida continua, o Mamulengo continua, os bonecos se reproduzem… pra quê? Bem, aí já é sério e abstrato demais pra explicar.

sábado, maio 23, 2009

Para o INFELIZ do revisorzinho

Pegue teu olhos, blogueiro(a), e leia, se for capaz, este parágrafo, ele abre uma entrevista em um jornal de Rio Branco. Veja o tamanho deste parágrafo, algo imenso. Texto jornalístico deve apresentar estruturas sintáticas curtas em certos casos, por exemplo, neste.

Pensei que eu corrigisse texto. Em verdade, eu faço milagre para o leitor entender o que outros não escrevem.

"O presidente do Tribunal Regional Eleitoral, desembargador Arquelau de Castro Melo, decretou uma guerra sem trégua durante a sua gestão contra a compra de votos, demoranos julgamentos dos processos relativos ás denúncias de abuso do poder econômico, de uso da máquina estatal e municipal, supostamente ocorridos na última eleição, como forma de dar uma resposta rápida á sociedade sobre cada um desses casos. Na entrevista á TRIBUNA, Arquelau Melo fala sobre a Reforma Política, as listas montadas pelos candidatos, que funcionam como um cadastro da corrupção, as campanhas sobre o voto consciente, e acerca das doações ilegais na campanha, que envolve setenta e quatro políticos, que a medida que a apuração avança se descobre que foram usadas pessoas inocentes, pobres, como “laranjas”, para mascarar essas doações, que atingiram a um nível de um dos maiores escândalos políticos dos últimos anos."

sexta-feira, maio 22, 2009

De Oswald de Andrade (1890-1954)













Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
.

quinta-feira, maio 21, 2009

Um gesto voluntário

O que ganhamos com um gesto voluntário? A Secretaria Estadual de Educação emitirá um documento, reconhecendo o compromisso de seu funcionário público com a educação? Deus dará a mim a sorte de acertar na megassena?

No sábado, dia 23 de maio, das 9 horas às 11 horas, na escola Heloísa Mourão Marques, lecionarei Redação para 59 alunos. À tarde, será a vez do professor Luís.

O que ganho com meu gesto voluntário? Se eu tivesse uma sala bem confortável, bem organizada, poderia cobrar R$ 50 por mês, sendo três horas de Redação por semana. Na conta, seriam R$ 2.950. Leio Drummond.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários
.

Lecionar, já disse, é uma forma de me manter vivo, e isso não tem preço, só tem paixão, amor, vontade voraz de ver no futuro próximo meus alunos em um emprego que possibilite a eles pagar contas, viajar, comprar bons DVDs, adquirir livros interessantes, comprar a casa própria, presentear pais, comprar um buquê caro de flores para a namorada ou para a esposa.

Até sábado!

Alunos, uni-vos!












Amados alunos, unidos, iremos à Usina de Arte João Donato para assistir à peça Se o mundo fosse bom, o dono morava nele!, texto de Ariano Suassuna e direção de Llo Krugli. Como só havia um único horário, o espetáculo começará às 21 horas.

O navio partirá da escola às 20 horas. Navegantes, quando aportamos no teatro, o barco logo afundará por causa de um Ventoforte vindo do Norte. Não nadem. Afoguem-se na imaginação.

Graças à política cultural do atual governo, nossos olhos se abrirão para o que não idiotiza a alma humana, para o que não nos emburrece. Neste dia, desligaremos a TV das pegadinhas sem graça de um Faustão para perceber a mais nobre de todas as mentiras - a mentira do teatro.

"A arte é o mais alto poder do falso, ela magnifica 'o mundo enquanto erro', santifica a mentira, faz da vontade de enganar um ideal superior." Quem disse isso aos meus olhos foi Deleuze.

Até lá!

quarta-feira, maio 20, 2009

Sem motorista para ir à Usina de Arte

Alunos da rede pública querem assistir a uma peça do grupo de teatro Ventoforte, mas a Secretaria de Educação está sem motorista para pegar os alunos.

Se fosse Rio Branco contra o Flamengo no Arena da Floresta... bandeirinhas e mais bandeirinhas...

A cultura não está com essa bola toda.

Há uma semana, a escola HMM deseja levar alunos ao teatro, porém, até o momento, a Usina de Arte não confirmou porque a Secretaria de Educação está sem motorista para levar os estudantes.

Vou rezar!

Mulheres no Sinplac

Hoje, conversando com uma representante do Sindicato dos Professores Licenciados do Acre, o Sinplac, ouvi críticas contra a Secretaria Estadual de Educação. Penso que faltam autocríticas a um sindicato administrado por mulheres.

Em seu segundo mandato, a atual direção não percebeu até hoje que o sindicato precisa criar uma imprensa autônoma e criativa dentro do próprio sindicato. Trata-se de um erro estúpido não investir em uma comunicação que pense a educação, que aponte, de forma inteligente e criativa, novos caminhos.

Não se trata de uma imprensa a serviço do aparelho sindical, não, não se trata de um panfleto, mas de uma imprensa bem escrita, com bons conteúdos, com boa diagramação, com ideias que saibam questionar o poder público e que saiba propor novos caminhos à Secretaria de Educação.

Se mulheres estão em sindicatos, qual a diferença em relação aos homens?

domingo, maio 17, 2009

Boa entrevista

















UM DOS PRINCIPAIS HISTORIADORES DO NAZISMO,
O INGLÊS IAN KERSHAW MOSTRA
COMO HITLER CHEGOU AO PODER
E EXPLICA POR QUE O REGIME
NÃO PROSPEROU EM OUTROS PAÍSES

O nazismo não nasceu do psiquismo ou
de uma característica específica da população alemã

MARTHA ZUBERMARTINE FOURKIEN

Apesar da fama que seus trabalhos sobre o nazismo lhe garantiu na comunidade internacional, Ian Kershaw continua apegado a sua Inglaterra natal.

Ele concedeu a entrevista abaixo na Universidade de Sheffield, onde leciona história contemporânea. Kershaw fala de seus estudos sobre o nazismo com confiança tranquila, revelando conhecimento aprofundado de inúmeras publicações sobre o assunto.

Como esse homem sossegado se tornou um dos maiores especialistas no regime hitlerista? Um pouco por acaso, explica. Duas circunstâncias orientaram sua escolha.

Por um lado, seu interesse nas questões políticas desse período e na história social; por outro, as aulas de alemão que cursou no Instituto Goethe de Manchester.

Em 1972 e 1974, duas estadas na Baviera reforçaram seu interesse pela civilização alemã. Trabalhou no prestigioso Instituto de História do Tempo Presente, em Munique, dirigido pelo historiador alemão Martin Broszat.Dessa época nasceria o livro "Popular Opinion and Political Dissent in the Third Reich" [Opinião Popular e Dissenso Político no Terceiro Reich].

Uma coisa levou a outra, e várias questões começaram a despertar a curiosidade do historiador: como explicar o "sucesso" do nazismo? A população alemã era impregnada de um antissemitismo mais profundo que o antijudaísmo tradicional dos países católicos? Por que, entre todas as economias industriais e capitalistas, a Alemanha foi a única a ter produzido uma ditadura fascista tão extrema?

PERGUNTA - Hitler elaborou uma teoria política ou aproveitou circunstâncias favoráveis para instalar sua ditadura? A quem, de fato, cabe a responsabilidade pelo nazismo?
IAN KERSHAW - Hitler foi alguém que tinha opiniões muito fortes e decididas sobre qualquer assunto. Radicalizava tudo e podia igualmente bem se enfurecer rapidamente ou entusiasmar-se de maneira desmedida.Em Viena, ele era solitário e pouco sociável. Na Primeira Guerra, foi considerado um soldado muito corajoso, mas um pouco excêntrico, que se mantinha à margem dos outros.Mas em 1919, em Munique, ele se deu conta de que podia ser ouvido. Ele diz em dois momentos do livro "Minha Luta": "Então tomei consciência de que eu podia falar". Essa visão muito maniqueísta das coisas se tornou um trunfo formidável quando ele começou a falar com as pessoas nas cervejarias de Munique.Foi essa visão de conjunto, taticamente muito flexível, que lhe permitiu, nos anos 1920 e 1930, adaptar-se aos interesses mais diversos -aqueles das diferentes facções nazistas e os da população alemã.Contudo seria restritivo demais dizer que a responsabilidade pelo nazismo recai sobre um único indivíduo. É verdade que Hitler tem mais responsabilidade que qualquer outra pessoa, mas, à medida que a crise da democracia alemã foi se desenvolvendo, ele foi atraindo mais e mais pessoas.Tampouco podemos dizer que o nazismo tenha nascido do psiquismo ou de uma característica específica da população alemã. Nas eleições de 1932 e 1933, 13 milhões de alemães votaram no partido nazista, número que não representava mais do que um terço dos eleitores. Quando as eleições eram livres, Hitler nunca recebeu mais de um terço dos votos, o que significa que dois terços dos alemães não votaram nos nazistas.O que se pode afirmar é que Hitler conseguiu articular certas tendências da cultura política alemã e atrair mais e mais pessoas. Portanto, a responsabilidade pelo regime nazista cabe, ao mesmo tempo, a Hitler, o homem, e a certos setores da sociedade -mas não à sociedade alemã em sua totalidade.

PERGUNTA - Então o sr. não aprova a tese do americano Daniel J. Goldhagen, que defende que o conjunto da população alemã, fundamentalmente antissemita, foi cúmplice do nazismo e do Holocausto?
KERSHAW - É evidente que havia um antissemitismo profundo na Alemanha muito antes da Primeira Guerra. Talvez mais do que na França, mas não mais que em toda a Europa oriental -na Polônia, Romênia, Hungria, Áustria, onde Hitler nasceu, e, sobretudo, Rússia. Nos anos 1920, porém, esse antissemitismo alemão era sobretudo passivo; o antissemitismo violento -e ativo- era obra de uma pequena minoria.É claro que essa minoria despertou entre 1929 e 1932, e os eleitores que votaram no Partido Nacional Socialista alemão (ou seja, os nazistas) sabiam que estavam votando num partido que odiava os judeus. Mas os estudos que foram feitos sobre o voto nazista nesse período mostram que o antissemitismo não foi a motivação principal desses eleitores.

PERGUNTA - Foi Hitler quem decretou a "solução final"?
KERSHAW - Considerar que Hitler tenha decretado a solução final equivaleria a dizer que essa ditadura funcionava segundo as leis ditadas por ele. Acontece que o que constatamos ao estudar o período dos anos 1930 é, antes, uma forma pragmática de governar.A radicalização do nazismo se deu por etapas até 1941-42, quando a Alemanha já estava em plena guerra contra a União Soviética, visando a erradicar o "bolchevismo judaico". Para os nazistas, judeus e bolcheviques eram a mesma coisa. Desde o primeiro dia da operação Barbarossa (a invasão da União Soviética pelas tropas alemãs), não houve nenhuma ordem explícita de Hitler.É preciso destacar o papel das SS como a organização mais poderosa e mais radical do Estado nazista. Foram elas que, nessa fase, colocaram em prática a divisa de Hitler sobre ser preciso livrar a Alemanha dos judeus.No verão de 1941, na União Soviética invadida pelas tropas alemãs, esse movimento se radicalizou. Os judeus começaram a ser fuzilados às dezenas de milhares. Em setembro, 33 mil judeus foram mortos em dois dias!O que seria feito, então, com os outros judeus da Europa? O extermínio já tinha começado na União Soviética; os chefes nazistas pressionavam Hitler para deportar os judeus austríacos e alemães para o leste, e Hitler deu sinal verde. Em seguida, o mesmo passou a ser feito com os judeus da Europa ocidental (incluindo a França).Os massacres foram o resultado de um processo que se desenrolou por etapas. Hitler tinha uma visão geral das coisas, mas deixava os outros agirem em seu lugar.Não pode haver dúvida quanto a sua responsabilidade nem quanto ao fato de ele ter sido um antissemita fanático. Mas foi o sistema nazista, com sua radicalização progressiva, que levaria ao genocídio dos judeus.

PERGUNTA - Em que Hitler, como o sr. diz em seus trabalhos, foi um líder carismático
KERSHAW - É preciso entender a palavra "carismático" em seu sentido técnico, e não no sentido usual que assumiu hoje, quando falamos do carisma de um astro da música pop ou até mesmo de John F. Kennedy.Para o sociólogo Max Weber, o carisma significa que uma comunidade se investe em uma pessoa e atribui a ela certo número de qualidades heroicas. O que retiro de Weber é que o indivíduo não necessariamente possui essas qualidades que os outros enxergam nele. No caso de Hitler, por que esse homem que descrevemos como estando à margem da sociedade, ao mesmo tempo excêntrico e tão voluntarista, começa a ser ouvido por certas pessoas?Porque ele responde às aspirações delas.Na sociedade alemã dos anos 1920, as pessoas que nunca tinham ouvido falar em Hitler consideravam que o regime era corrompido pelos políticos, que a Alemanha estava afundando e que ela precisava de um grande líder como Bismarck ou Frederico, o Grande -alguém que pudesse salvar o país dessa terrível crise política e econômica e que permitisse um renascimento nacional.Foi assim que as pessoas começaram a acreditar em Hitler.Para um megalomaníaco como ele, que naquele momento já conquistara muita autoconfiança, o caminho estava traçado: o grande personagem que salvaria a Alemanha era ele.Ele ocupava o ápice de um sistema, tendo por missão alcançar certos objetivos.Mas, por trás disso, era submetido a pressões de diferentes facções -entre as quais é preciso destacar o papel poderoso do Exército, que até 1938 teve exatamente os mesmos objetivos de expansão militar que Hitler, embora a maioria dos oficiais não fosse nazista.Durante muito tempo, os objetivos dos nazistas mais ou menos coincidiram com os de grande número de nacionalistas alemães que faziam parte das elites tradicionais do país. Podemos afirmar que as Forças Armadas, os grandes empresários, os grandes proprietários de terras e os altos funcionários apoiaram Hitler durante muito tempo, até que foi tarde demais e se viram presos numa armadilha, dentro do culto a esse líder carismático.

PERGUNTA - Um modelo como esse poderia funcionar em outro país?
KERSHAW - É preciso levar em conta que uma das causas muito importantes para a ascensão do nazismo foi a crise profunda que atingiu a Alemanha nos anos 1930.A particularidade dessa crise é que ela foi multiforme: crise do sistema político e governamental, crise econômica, social e ideológica, tudo isso associado a um sentimento de humilhação nacional devido à derrota na Primeira Guerra.A Alemanha era um país em que a democracia tinha raízes frágeis, e o sistema político instalado após a guerra (a República de Weimar) nunca chegou a ser verdadeiramente aceito, nem por grande parte da população, nem pelas elites.Quando chegou a depressão mundial, em 1929, todo o sistema que passou a ser questionado, e não apenas certos setores. Na Grã-Bretanha, por exemplo, de 1929 a 1931, houve uma crise econômica e política, mas não uma crise de Estado. Com a exceção de uma pequena minoria muito radical, ninguém cogitava em questionar o rei ou o Parlamento. O sistema era suficientemente estável para fazer frente a uma crise.Na França, os governos da Terceira República (1870-1940) foram muito frágeis. Mas a França estava no campo dos vencedores (de 1914-18) e não passava por uma crise de amplitude igual à dos países em que o fascismo se instalou.Na Alemanha, a necessidade de uma regeneração nacional era uma mensagem muito forte da qual Hitler era o portador.Alguns imaginaram que ele não permaneceria no poder por muito tempo, mas, sob o Terceiro Reich, a economia começou a crescer novamente, o Exército foi reconstituído, a Alemanha recuperou territórios que havia perdido.Os ingleses e os franceses se mostraram muito fracos diante de Hitler, que foi se fortalecendo mais e mais. Diante disso, os alemães que hesitavam ou que não gostavam de Hitler se uniram à sua volta. E a dinâmica carismática funcionava cada vez melhor.Quando a guerra chegou, já era tarde para recuar -a ditadura já estava bem instalada por um processo progressivo de radicalização. O mito só desabou com a derrota, quando o sistema se audodestruiu depois de ter exterminado mais de 5 milhões de judeus.

A íntegra desta entrevista saiu na revista francesa "Sciences Humaines". Tradução de Clara Allain.

sábado, maio 16, 2009

Quem é o Diabo?
















Pastor tenta matar macumbeira a pauladas

Alegando que lutava contra Satanás, o pastor João Francisco Ferreira da Silva (51) tentou matar, na noite de sexta-feira, sua vizinha, a macumbeira Maria José Valdivino de Oliveira (42).

O evangélico fugiu antes da chegada de policiais militares e responderá pelo crime na 3ª Regional (Sobral). A vítima, medicada no pronto-socorro, recebeu alta e se recupera em casa.

João Francisco e Maria José Valdivino são vizinhos há pouco mais de dois meses, período em que se desentenderam muitas vezes por causa do evangélico que não aceita que Maria José mantenha um terreiro de macumba em sua residência.

Por volta das 20 horas de sexta-feira, dia 16, Maria se preparava para iniciar os trabalhosde terreiro quando o pastor pediu para que ela acabasse com o que ele considera um culto a Satanás. Discutiram outra vez.

Em dado momento, João Francisco bateu na mulher com uma ripa. Ele só não a espancou mais porque adeptos seguraram o pastor. Lesionada nas costas, nos braços e no rosto, Maria José foi amparada por amigos e levada para o pronto-socorro. Frequentadores do terreiro prometeram surrar o evangélico caso ele voltasse ao local possuído pelo Diabo.

sexta-feira, maio 15, 2009

Suicídio

Foto de Debora Mangrich











Em Rio Branco, na passarela Joaquim Macedo, o jovem José Gonçalves Neto, de Manaus, pulou para morrer no rio Acre. Desempregado, doente, sem dinheiro e longe de uma família indiferente a ele, José recebeu da plateia que assistia a seu drama o riso, o deboche. "Seu corno, pula, pula, porque corno tem que morrer."

Salvo pelos bombeiros, José teve depois um ataque de epilepsia. "Isso é cena", disse um popular da plateia.

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
------------------------------------
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação
.
________________
"Os ombros suportam o mundo", de Drummond

Fui!



Alberto Nogueira,
repórter-fotográfico

da TRIBUNA

Quando eu soube que a vida não daria uma chance sequer a Alberto, o silêncio de uma breve lembrança encostou-se em mim. Outro amigo agora é passado.

Por causa do câncer, causado pelo cigarro, ele sofreu muito antes de ir embora para sempre. A dor dessa maldita doença o fez sofrer muito. Somos tão frágeis.

quarta-feira, maio 13, 2009

Ronda Gramatical












Deixaram esta foto para nós. Esse gramaticídio foi cometido em Rio Branco.

O assassino não foi preso. À margem da ortografia, o bandido ainda permanece vivo.

A Assembleia Legislativa do Acre e uma escola

Segundo o sítio Transparência Brasil, a Assembleia Legislaltiva do Acre não é uma instituição que expõe os seus reais gastos públicos. Não sabemos quanto o contribuinte paga para manter o cafezinho. Não sabemos quanto vale um deputado acriano. Não sabemos...

Parece que a escola estadual Heloísa Mourão Marques não seguirá o exemplo público da assembleia. Hoje, surgiu o sítio dessa escola: www.heloisamm-ac.webnode.com e, segundo a gestora, professora Osmarina, na página virtual, receita e despesas serão publicadas. Dinheiro público exposto ao público.

Acho que votarei na Osmarina para ser presidente da Assembleia Legislativa do Acre.

terça-feira, maio 12, 2009

Uma breve poesia

A Flor e a Náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.














Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Drummond________________________

Uma matéria e um breve comentário

Conselho Universitário decide que Ufac
realizará vestibular mas a discussão não acabou

Matéria de Freud Antunes

O Conselho Universitário da Universidade Federal do Acre (Ufac) decidiu na tarde de ontem que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não substituirá os vestibulares deste ano. O posicionamento não extinguiu a discussão que será retomada em uma próxima reunião.

Segundo a assessoria de imprensa da instituição, uma comissão será formada para debater a substituição do processo seletivo, o que deverá ter a participação da sociedade.

Mesmo com incertezas para o futuro, neste ano, a Ufac lançará um vestibular em julho e outro no final do ano para selecionar novos alunos para 2010.

A assessoria de imprensa informou que a única alteração será na forma de seleção dos estudantes para as mais de cem vagas remanescentes, que serão completadas por meio do Enem.

Fontes ligadas ao Conselho Universitário informaram que a decisão final poderá mudar a forma de seleção apenas em 2011, porque a reitoria não conseguirá organizar em tempo hábil uma comissão e os debates antes do vencimento do prazo de adesão estipulado pelo Ministério da Educação (MEC) que termina no dia 30.

Mesmo com a organização de uma análise mais aprofundada, muitos professores se mostram contra o Enem, porque a seleção de alunos poderá privilegiar os candidatos de outros Estados, tomando as vagas dos acrianos.

No Enem de 2008, os estudantes das Regiões Sul e Sudeste conseguiram os melhores resultados do Brasil.
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Comentário: privilegiar candidatos de outros Estados!? Professores que se mostram contra o Enem precisam, primeiro, perder o medo da concorrência e, para tanto, a Ufac deverá manter outra relação com o ensino público, por exemplo, o estágio na rede pública.

Se transformações não ocorrerem na Ufac, o senhor Tempo dirá.

(E)nem Ufac

Como sabemos, o Ministério da Educação prorrogou para o dia 20 de maio a decisão das federais optarem pelo novo vestibular. Segundo me informaram, a Universidade Federal do Acre (Ufac) não ficará com o Ministério da Educação. A federal acriana manterá seu modelo de vestibular.

Mas qual o modelo da Ufac?

Nos últimos anos, o modelo da Ufac tem sido copiar prova de vestibular na internete. Ainda: passa uma lista com dez livros; uma questão dessa lista, porém, não cai na prova. Evidente que alguns professores universitários, quando "elaboram" provas, comprometem a instituição. Alguns. O que aconteceu com eles?

No campo da literatura, provas ainda exalam o cheiro espesso de mofo do historicismo literário. Uma professora-doutora que sempre resguardou esse historicismo foi Laélia Alcântara, aposentada hoje.

Em Letras, na condição de intelectual que formou professores, ela colocou na rede pública de ensino profissionais que reproduzem até hoje a linha reta Quinhetismo-Barroco-Arcadismo-Romantismo-Parnasianismo-Pré-Modernismo-Modernismo.

Para o novo vestibular, essa história da literatura - e não a Literatura - não tem sentido. Há um bom tempo, estuda-se em sala o texto literário.

Penso que a atual reitora, professora-doutora de Literatura Olinda Batista Assmar, terá a missão de promover uma outra literatura no vestibular e, por tabela, outra literatura na rede pública de ensino.

Entretanto, caso a Ufac não opte pelo novo vestibular, a Universidade, mesmo assim, será forçada a repensar sua relação com o ensino público e com a formação de professores no curso de letras, por exemplo.

Se não houver essa transformação, alunos da rede pública não conseguirão concorrer por meio do novo vestibular com alunos de outros estados. Se não houver transformação, nosso ensino público permanecrá isolado do Brasil.

Como diz o velho e bom Cazuza, "o tempo não para". Alguns ficaram parados. Alguns perderam o mouse da história.

segunda-feira, maio 11, 2009

Foto Grafia & Luz Escrita

Na fotografia, encontro eternizada a memória daquilo que já não é mais, daquilo que já passou, porque já morreu ou, de alguma forma, deixou de existir. Com a fotografia, posso brincar e fazer de conta que alguma coisa ainda existe.

Posso me alegrar simplesmente pela lembrança, pela recordação, com toda a nostalgia de que uma simples imagem pode me proporcionar. Lembrar-me de coisas que me trazem alegria, de coisas que me trazem saudade, de coisas que me fazem rir ou chorar.

São amores antigos e perdidos (ou não), são pessoas preciosas que passaram por minha vida, lugares que conheci, brinquedos que tive, delícias que comi. Tantas são as coisas que podem ser registradas em uma fotografia.

A fotografia luta contra o esquecimento, contra o vazio.

A fotografia me enche os olhos e aquece o coração.

Em outros momentos, a fotografia é uma mentira. Sem ofensas, mas, quando vejo um retrato e fecho os olhos logo em seguida para ter a sensação de que o passado ainda é presente, isso é uma mentira. Uma mentirinha gostosa, porém completamente perdoável. Mexe com a minha mente e com meus sentimentos. Me faz sonhar acordada.

E essa fotografia mentirosa pode também me fazer viajar por lugares que eu nunca conheci, ela me traz notícias dos que estão longe, meus amores, minha família. Amo essa mentira em todas as suas formas e expressões.

Confesso que particularmente tenho uma queda pela fotografia em papel, tem um certo charme que uma tela de computador passa longe ter. Posso sentir com minhas mãos, abraçar junto ao meu peito, guardar dentro de um livro, colocá-la em um porta-retrato na estante.
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Texto de Debora Mangrich, fotógrafa do jornal A TRIBUNA

Do Rio Grande do Sul

Da professora e amiga Ivone Bengochea
"Não conheço a luta das mulheres acreanas, mas como toda a luta das minorias deve ser respeitada. Lar, cozinha, cuidar das crianças, lavar a louça, cortar cebolas nâo é uma tarefa exclusivamente feminina, pertence a homens e mulheres. Ser mâe biológica é uma opção de vida, nunca uma imposição social, ninguém é melhor ou pior por ter gerado filhos. Toda sociedade tem responsabilidade com as novas gerações. A luta feminista é favor da liberdade dos seres humanos, no capítulo das mulheres, ainda precisamos de mais delegacias, de extrair o machismo que mata. Mulheres sâo covardemente mortas, massacradas humilhadas. O dia das maes, dos pais, das criançãs, são datas comerciais para se vender. Só que dignidade se conquista,não está nas lojas. Bem viva as mães, os pais e todos neste domingo, na minha casa os homens lavam louça, cortam cebolas melhor do que eu, preciso deixar o registro. Acho muita severidade com as mulheres acreanas."

As mulheres no sindicato

Uma resposta a uma amiga virtual do Rio Grande do Sul.












Na foto, o Sindicato dos Professores Licenciados do Acre, Sinplac, deu como brinde uma caneta e um erro de português.

Ivone, por meio de sua postagem, percebi que teus olhos se reviraram com o meu curto texto sobre as feministas acrianas. Você saiu em defesa da luta feminista. Minha amiga, o atual modelo de feminismo encontra-se em refluxo há alguns anos. Revistas, jornais e teses problematizam o que ocorreu no século 20, na década de 1960.

Em 1987, só para dar um exemplo, Micchèle Fitoussi, de 32 anos, publicou o pequeno livro O basta das supermulheres, suas páginas foram um tapa nas feministas de 1970. Em seu livro, ela defende a ideia de que as mulheres foram tapeadas quando lutaram por igualdade.

Edgar Morin, em Cultura de Massa no Século XX - volume 2 -, tece crítica ao feminismo quando seu texto afirma "o feminismo tradicional não cessou de reivindicar a plenitude dos direitos masculinos, como se o masculino significasse plenitude da humanidade".

Poderia citar outros exemplos, mas me reduzo a esses. Citados, reafirmo que o feminismo acriano representa um equívoco grosseiro quando balbucia sobre a violência contra a mulher, sobre a luta da mulher no sindicato.

Serei específico. Após as limitações mentais do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Acre, o Sinteac, algumas mulheres criaram o Sindicato dos Professores Licenciados do Acre, o Sinplac, repito, um sindicato criado por mulheres. Pergunto, Ivone: onde está o gênero feminino em um sindicato organizado por mulheres? Outra pergunta. Na escola pública, há muitas mulheres. No entanto, onde está o gênero feminino?

Resposta: não há.

No sindicato, prevalece o gênero masculino. Quero dizer com isso que não adianta a mulher ocupar o Congresso se a organização dessa instituição representa o gênero masculino. Ivone, o homem pode estar na cozinha - e deve - , essa não é a questão; a questão é a cozinha permanecer com sua representação simbólico-feminina.

As sindicalistas são homens com voz fina, com saia; elas reproduzem de forma inconsciente os arquétipos masculinos. Em A República, Platão admite que as mulheres ocupem a pólis conforme, repito, conforme as representações do masculino.

O discurso feminino contra a violência masculina, centralizado em formas jurídicas, não pertence ao gênero feminino. Existe algo mais falocrático do que o Poder Judiciário?

Mosca no supermercado













Sei que meu blogue não é muito visitado e, por causa disso, muitos não saberão que havia uma mosca - não tirei a foto da outra mosquinha - na carne do supermercado Araújo. Os donos bem que poderiam colocar um aparelho no açougue que mata as moscas com descarga elétrica.

Não comprei a carne.

domingo, maio 10, 2009

As feministas acrianas não são mães














Na história, mulheres conceberam à luz vários feminismos; um, porém, foi castrado pelas feministas acrianas, ei-lo: feminismo maternalista (1890-1930). No Acre, elas, todo ano, em 8 de março, reproduzem o discurso do trabalho, da economia.

No Dias das Mães, elas se ocultam, não aparecem em jornais, como se lar, família e maternidade não pertencessem à luta feminista. Para elas, o dia das mulheres é 8 de março. Burro engano. O dia das mulheres é o Dia das Mães.

Em 1905, Käthe Schirmacher afirmou que o verdadeiro trabalho é o trabalho do lar. "Não existe trabalho mais produtivo do que o da mãe, que, sozinha, cria o valor dos valores, que se chama um ser humano."

Em História das Mulheres - o século XX -, na página 440, Gisela Bock afirma que "Schirmacher protestou contra esta 'exploração da dona de casa e da mãe', argumentando que as mulheres, em nome de sua emancipação, não deveriam ter ainda de suportar a exploração acrescida de um emprego mal pago, mas que a sociedade lhes devia o reconhecimento social, político e econômico do seu trabalho doméstico".

Em 1892, a primeira conferência de mulheres a autodenminar-se "feminista" sublinhou a necessidade da proteção social para todas as mães.

Como Käthe Schirmacher, outras mulheres defenderam esse feminismo, por exemplo, Marguerite Durand, Nelly Roussel, Katti Anker Moller, Ellen Key. Sobre família, lar, as feministas acrianas calam-se e, no lugar dessas palavras, dizem que delegacia, polícia e lei ajudam a diminuir a violência contra a mulher.

No Dia das Mães, seu eu pudesse, daria às feministas acrianas o livro Rumo equivocado - o feminismo e alguns destinos -, da feminista Elisabeth Badinter.

sábado, maio 09, 2009

Ronda Gramatical

Por Thaís Nicoleti

"O celibato tem que ser olhado não só sobre o ponto de vista humano mas também como formação espiritual. "Não seria descabido lembrar que a expressão "ponto de vista" tem origem nas artes plásticas. O ponto de vista é aquele escolhido por um pintor ou por um desenhista para melhor observar um objeto ou para colocá-lo em perspectiva.

Esse sentido ganhou extensão figurativa e passamos a empregar a expressão como a maneira de considerar ou de entender um assunto. Isso, entretanto, não quer dizer que qualquer preposição possa ser empregada para indicar o ponto do qual se observa ou considera uma questão.

No fragmento acima, o redator usou "sobre o ponto de vista", que, rigorosamente, quer dizer "em cima do ponto de vista". Talvez sua intenção fosse empregar a preposição "sob", de sentido inverso, que comumente aparece ao lado da expressão. Ocorre, porém, que não estamos nem em cima nem embaixo do ponto de vista. Assumimos um ponto de vista e dele observamos a paisagem ou a questão em debate.Assim, o ideal é empregar a preposição "de" com a expressão ponto de vista. Veja abaixo.

O celibato tem de ser olhado não só do ponto de vista humano mas também como formação espiritual.

Paulo Ramos
Paulo Ramos é jornalista, professor e consultor de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL
E-mail: peramos@uol.com.br

Nota Anote Anotou Anotação

A pavimentação do trecho amazonense na BR-317, que será feita pela empresa Colorado, de Orleir Cameli, receberá cerca de R$ 700 mil por quilômetro asfaltado. A mesma empresa de Orleir, que atua na BR-364, recebe cerca de R$ 2,2 milhões por quilômetro pavimentado.

Interessante ainda é que na mesma BR-364, outra empresa, desta vez a Construmil, recebe uma soma diferenciada das demais. Ela é regiamente com quase R$ 3 milhões por quilômetro pavimentada. Cada trecho, claro, tem suas peculiaridades, mas a diferença é muito grande.

quinta-feira, maio 07, 2009

Demanda reprimida

A cidade vai ser palco hoje de novas manifestações populares. Haverá um ato de protesto do Sindecaf, sindicato integrado por servidores do Deracre, Imac, Seater e Funbesa, reivindicando melhores salários. Também vão protestar os enfermeiros, que devem desfilar pelas ruas trajando negro. Nas duas manifestações, o alvo é o mesmo: o governo estadual.

quarta-feira, maio 06, 2009

O novo ensino médio

MEC quer trocar matérias por áreas temáticas

A intenção é eliminar a atual divisão do conteúdo em 12 disciplinas no ensino médio e criar quatro grupos mais amplos Proposta será discutida hoje pelo Conselho Nacional de Educação; União planeja incentivos financeiros para obter adesão dos Estados.

FÁBIO TAKAHASHIDA
REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Educação pretende acabar com a divisão por disciplinas presente no atual currículo do ensino médio, o antigo colegial. A proposta do governo é distribuir o conteúdo das atuais 12 matérias em quatro grupos mais amplos (línguas; matemática; humanas; e exatas e biológicas).

Na visão do MEC, hoje o currículo é muito fragmentado e o aluno não vê aplicabilidade no programa ministrado, o que reduz o interesse do jovem pela escola e a qualidade do ensino.A mudança ocorrerá por meio de incentivo financeiro e técnico do MEC aos Estados (responsáveis pela etapa), pois a União não pode impor o sistema. O Conselho Nacional de Educação aprecia a proposta hoje e amanhã e deve aprová-la em junho (rito obrigatório).

O novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que deverá substituir o vestibular das universidades federais, será outro indutor, pois também não terá divisão por disciplinas.

Liberdade
Segundo a proposta, as escolas terão liberdade para organizar seus currículos, desde que sigam as diretrizes federais e uma base comum. Poderão decidir a forma de distribuição dos conteúdos das disciplinas nos grupos e também o foco do programa (trabalho, ciência, tecnologia ou cultura).


Assim, espera-se que o ensino seja mais ajustado às necessidades dos estudantes.O antigo colegial é considerado pelo governo como a etapa mais problemática do sistema educacional. Resultados do Enem mostram que 60% dos alunos do país estudam em escolas abaixo da média nacional.

O governo Lula pretende que já no ano que vem, último ano da gestão, algumas redes adotem o programa, de forma experimental. No médio prazo, espera que esteja no país todo."A ideia é não oferecer mais um currículo enciclopédico, com 12 disciplinas, em que os meninos dominam pouco a leitura, o entorno, a vida prática", disse a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar.

Está previsto também o aumento da carga horária (de 2.400 horas para 3.000 horas, acréscimo de 25%)."A mudança é positiva. Hoje, as disciplinas não conversam entre si", afirmou Mozart Neves, membro do Conselho Nacional de Educação e presidente-executivo do movimento Todos pela Educação."A análise de uma folha de árvore, por exemplo, pode envolver conhecimentos de biologia, química e física. O aluno pode ver sentido no que está aprendendo", disse Neves.

A implementação, no entanto, será complexa, diz o educador. "Precisa reorganizar espaços das escolas e, o que é mais difícil, mudar a cabeça do professor. Eles foram preparados para ensinar em disciplinas. Vai exigir muito treinamento."O MEC afirma que neste momento trabalha apenas o desenho conceitual. Não há definição de detalhes da implementação ou dos custos.O relator do processo no conselho, Francisco Cordão, disse que dará parecer favorável. "Talvez seja preciso alguns ajustes. Mas é uma boa ideia. Hoje o aluno não vê motivo para fazer o ensino médio."

segunda-feira, maio 04, 2009

Estudantes vão à biblioteca para matar












A Biblioteca Estadual, tão charmosa, não foi atingida pela leitura de alunos, mas por balas disparadas por alguns estudantes. Bem mais que um fato em si, trata-se de um acontecimento simbólico.

PM prende três adolescentes que dispararam contra estudantes
Matéria de FREUD ANTUNES
Foto de DEBORA MANGRICH

A PM prendeu três estudantes do Colégio Estadual Barão do Rio Branco (Cerb) acusados de atirar contra dois adolescentes da mesma escola no final da tarde de ontem, no Centro de Rio Branco.

De acordo com testemunhas, P.S.D.M. (17 anos), E.R.S. (16 anos) e T.C.L. (16 anos) abordaram as vítimas, apontando um revólver, calibre 22, e uma peixeira, assustando os dois rapazes que procuraram refúgio na Biblioteca Pública.

Com a fuga, P.S.D.M. apontou a arma e disparou duas vezes na porta principal do prédio, atingindo de raspão um dos adolescentes.

O barulho chamou a atenção de policiais militares que começaram a perseguir o jovem, sendo detido na frente da Secretaria da Fazenda (Sefaz).

Durante o tumultuo e o socorro às vítimas, o vigia identificou E.R.S. e T.C.L., que tentavam se misturar à multidão de curiosos, mas acabaram flagrados como coautores do crime e presos. Quando revistados, os agentes descobriram que eles portavam uma peixeira em uma mochila.

As vítimas foram encaminhadas para o pronto-socorro; e os acusados, para a Delegacia de Proteção ao Menor.

No local, uma testemunha confirmou uma desavença entre os jovens que brigaram na quinta-feira.

Justiça

Familiares de vítima de trânsito pedem justiça
De GILBERTO LOBO

Familiares e amigo de Carlos Augusto de Vasconcelos, de 43 anos, protestaram, na manhã de ontem, em frente ao prédio dos juizados especiais cíveis, pedindo justiça. Carlinhos, como era conhecido, foi vítima de acidente de trânsito no início de fevereiro deste ano. Sua moto colidiu com um carro, conduzido pela defensora pública Wânia Lindsay. Ontem, foi a audiência de conciliação.

De acordo com a mãe de Carlinhos, Eliuda Araújo, a defensora não fugiu do local do acidente, mas nenhum boletim de ocorrência foi registrado. Isso levantou a suspeita de que Wânia teria sido favorecida por ser defensora pública.

O Ministério Público Estadual (MPE) está investigando o caso. O acidente aconteceu por volta das 21horas de 3 de abril de 2009, na avenida Nações Unidas, sentido Centro-bairro. Carlinhos ainda foi socorrido por uma equipe de paramédicos do Samu, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no pronto-socorro de Rio Branco. A defensora pública não foi encontrada para falar sobre o assunto.

domingo, maio 03, 2009

O carteiro e o poeta, e os meus alunos













Na Biblioteca Estadual do Acre, em Rio Branco, meus alunos assistiram ao filme O carteiro e o poeta, que começou às 10 horas, no primeiro sábado de maio.

Depois que valores do eu-lírico foram colocados em sala de aula, um filme para eles perceberem a palavra encarnada em personagens. Não gosto que assistam a filmes em sala de aula, porque a percepção não é a mesma e, com efeito, o filme não é o mesmo.

Depois da reforma, a Biblioteca Estadual ficou ótima, um espaço de cinema em uma capital onde não há a cultura do cinema. Em Rio Branco, só há o espaço Cine João Paulo.

O governo do PT possibilitou um belíssimo espaço para os estudantes. Confortável, bonito e organizado, o espaço da Biblioteca Estadual é o melhor.