terça-feira, junho 28, 2011

Pastoras lésbicas

Três semanas depois de inaugurar uma igreja inclusiva e voltada para acolher homossexuais no Centro de São Paulo, o casal de pastoras Lanna Holder e Rosania Rocha pretende participar da Parada Gay de São Paulo, em 26 de junho, para "evangelizar" os participantes. Estudantes de assuntos ligados à teologia e a questões sexuais, as mulheres encaram a Parada Gay como um movimento que deixou de lado o propósito de sua origem: o de lutar pelos direitos dos homossexuais.

“A história da Parada Gay é muito bonita, mas perdeu seu motivo original”, diz Lanna Holder. Para a pastora, há no movimento promiscuidade e uso excessivo de drogas. “A maior concepção dos homossexuais que estão fora da igreja é que, se Deus não me aceita, já estou no inferno e vou acabar com minha vida. Então ele cheira, se prostitui, se droga porque já se sente perdido. A gente quer mostrar o contrário, que eles têm algo maravilhoso para fazer da vida deles. Ser gay não é ser promíscuo.”

As duas pastoras vão se juntar a fiéis da igreja e a integrantes de outras instituições religiosas para conversar com os participantes da parada e falar sobre a união da religião e da homossexualidade. Mas Lanna diz que a evangelização só deve ocorrer no início do evento. “Durante [a parada] e no final, por causa das bebidas e drogas, as pessoas não têm condição de serem evangelizadas, então temos o intuito de evangelizar no início para que essas pessoas sejam alcançadas”, diz.

Leandro Rodrigues, de 24 anos, um dos organizadores da Parada Gay, diz que o evento “jamais perdeu o viés político ao longo dos anos”. “O fato de reunir 3 milhões de pessoas já é um ato político por si só. A parada nunca deixou de ser um ato de reivindicação pelos direitos humanos. As conquistas dos últimos anos mostram isso.”

Segundo ele, existem, de fato, alguns excessos. “Mas não é maioria que exagera nas drogas, bebidas. Isso quem faz é uma minoria, assim como acontece em outros grandes eventos. A parada é aberta, e a gente não coíbe nenhuma manifestação individual. Por isso, essas pastoras também não sofrerão nenhum tipo de reação contrária. A única coisa é que o discurso tem que ser respeitoso.”

Negação e aceitação da sexualidade

“Sempre que se fala em homossexualidade na religião, fala-se de inferno. Ou seja, você tem duas opções: ou deixa de ser gay ou deixa de ser gay, porque senão você vai para o inferno. E ninguém quer ir para lá”, diz Lanna.

A pastora afirma que assumir a homossexualidade foi uma descoberta gradual. “Conforme fomos passando por essas curas das quais não víamos resultado, das quais esperávamos e ansiávamos por um resultado, percebemos que isso não é opção, é definitivamente uma orientação. Está intrínseco em nós, faz parte da nossa natureza.”

Igreja Cidade de Refúgio

Segundo as duas mulheres, após a aceitação, surgiu a ideia de fundar uma igreja inclusiva, que aceita as pessoas com histórias semelhantes as delas.

“Nosso objetivo é o de acolher aqueles que durante tanto tempo sofreram preconceito, foram excluídos e colocados à margem da sociedade, sejam homossexuais, transexuais, simpatizantes”, diz Lanna.

Assim, a Comunidade Cidade de Refúgio foi inaugurada no dia 3 de junho na Avenida São João, no Centro de São Paulo. Segundo as pastoras, em menos de 2 semanas o número aumentou de 20 fiéis para quase 50. Mas o casal ressalta que o local não é exclusivo para homossexuais. “Nós recebemos fiéis heterossexuais também, inclusive famílias”, diz Rosania.

Apesar do aumento de fiéis, as duas não deixaram de destacar as retaliações que têm recebido de outras igrejas através de e-mails, telefonemas e programas de rádio e televisão. “A gente não se espanta, pois desde quando eu e a pastora Rosania tivemos o nosso envolvimento inicial, em vez de essa estrutura chamada igreja nos ajudar, foi onde fomos mais apontadas e julgadas. Mas não estamos preocupadas, não. Viemos preparadas para isso”, afirma Lanna.

As duas mulheres, juntas há quase 9 anos, chegaram a participar de sessões de descarrego e de regressão por causa das inclinações sexuais de ambas. “Tudo que a igreja evangélica poderia fazer para mudar a minha orientação sexual foi feito”, afirma Lanna. “E nós tentamos mudar de verdade, mergulhamos na ideia”, diz Rosania. As duas eram casadas na época em que se envolveram pela primeira vez.

sexta-feira, junho 24, 2011

A intolerância dos evangélicos

Gilberto Dimenstein escreve (muito bem) para o jornal "Folha de São Paulo" aos domingos. Ele é um desses bons brasileiros que sabem pensar a educação brasileira.

Hoje, o assunto é gay e evangélico. Leia com muita atenção.

São Paulo é mais gay ou evangélica?

Gilberto Dimenstein

Como considero a diversidade o ponto mais interessante da cidade de São Paulo, gosto da ideia de termos, tão próximas, as paradas gay e evangélica tomando as ruas pacificamente. Tão próximas no tempo e no espaço, elas têm diferenças brutais.

Os gays não querem tirar o direito dos evangélicos (nem de ninguém) de serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos gays (o que, vamos reconhecer, é um direito deles). Ou seja, quer uma sociedade com menos direitos e menos diversidade.

Os gays usam a alegria para falar e se manifestar. A parada evangélica tem um ranço um tanto raivoso, já que, em meio à sua pregação, faz ataques a diversos segmentos da sociedade. Nesse ano, um do seus focos foi o STF.

Por trás da parada gay, não há esquemas políticos nem partidários. Na parada evangélica há uma relação que mistura religião com eleições, basta ver o número de políticos no desfile em posição de liderança. Isso para não falar de muitos personagens que, se não têm contas a acertas com Deus, certamente têm com a Justiça dos mortais, acusados de fraudes financeiras.

Nada contra - muito pelo contrário - o direito dos evangélicos terem seu direito de se manifestarem. Mas prefiro a alegria dos gays que querem que todos sejam alegres. Inclusive os evangélicos.

Civilidade é a diversidade. São Paulo, portanto, é mais gay do que evangélica.

quarta-feira, junho 22, 2011

Contas de uma escola pública


Governo, prefeitura de Rio Branco, Assembleia Legislativa do Acre e Câmara dos Vereadores da capital acriana não são mais transparentes do que a escola Heloísa Mourão Marques.

O PT sempre propagou a ideia do orçamento participativo, mas tudo não passou de cínica propaganda.

Nessa escola, a gestora expõe o dinheiro público, e os governantes [de esquerda?] o ocultam.

Se a gestora não apresenta as contas, é cobrada, punida.

sexta-feira, junho 17, 2011

Deus não é homem!

Montagem da charmosa Thalita. O texto, meu. Dias antes da Parada Gay, postarei meu texto neste blogue e em um jornal de Rio Branco.

Agora, este pedaço:

VII - Êxodo 32:27-29, o Deus que mata

Lembro-me quando cada um cingiu a espada sobre o lado, cada um passou e tornou a passar pelo arraial de porta em porta, e matou cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. Lembro-me, três mil homens assassinados a mando de um Deus vingativo para que cada um recebesse sua bênção. “Três mil homens mortos só porque ele tinha ficado irritado com a invenção de um suposto rival em figura de bezerro, Eu não fiz mais que matar um irmão e o senhor castigou-me, quero ver agora quem vai castigar o senhor por estas mortes”, pensou o personagem Caim, de José Saramago.

Após séculos sobre séculos, a Israel de Moisés ainda mata crianças palestinas na Faixa de Gaza, um campo de concentração delimitado pelo Deus dos judeus. Quando, entre 16 e 18 de setembro, o exército de Israel invadiu o Líbano em 1982, as armas de Jeová mataram 3,5 mil civis inocentes.

A Corte Suprema de Israel considerou o ministro da Defesa do país, Ariel Sharon, o responsável pelo massacre de Sabra e Chatila.
Sobre carnificinas, sobre assassinatos, sobre inocentes cadáveres, pastores acrianos calam-se; mas, quando o assunto é homossexualidade, pregam a ira do Senhor contra os que não foram, segundo eles, escolhidos por Jeová.

Dar o cu não pode. Um Deus que mata pode.

Alegres e dançantes, os meus alunos!

Penso como meu colega de trabalho, o Fernandes, um ótimo professor de matemática: "A escola deveria parar o seu cotidiano engessado para se transformar em alegria."

Compreendo a professora-gestora Osmarina, nem todos os professores vestem a camisa.

Enquanto isso, o 3º Batalhão da PM e a escola Heloísa Mourão Marques uniram-se para possibilitar momentos de alegria entre mim e a juventude do 2º C e do 2º D.

Trata-se de uma apresentação contra as drogas.

Para tanto, dançaremos Marcelo D2 e Barão Vermelho no auditório da escola. Iniciamos na terça. Quarta, feriado. Retomamos na quinta de forma diferente como os alunos se apresentaram na terça. Ficou melhor.

Ensaiamos na quinta. O melhor ficou na sexta. Sábado, ensaio final, das 8h às 11h.

Penso que uma forma de criticar o uso da droga se faz por meio da música, da dança, da poesia. O prazer das drogas combate-se com o prazer da cultura, com o prazer das relações afetivas.

Meus alunos jamais pensariam que um professor exigente, racional, sério, por exemplo, poderia ceder a uma pessoa que canta e que dança ao som de Marcelo D2 com eles.

O secretário estadual de Educação, Daniel Zen, tem o dever e a obrigação de levar às escolas públicas a mais densa e bela manifestação cultural da música, do teatro, da dança.

Zen, que veio da Secretaria de Cultura, não pode vacilar. Em 2011, sua presença na secretaria tem sido inexpressiva, típica de um burocrata. Faltam três anos. Se, nesse tempo, ele não misturar educação e cultura, receberá uma CRÍTICA à altura dos incompetentes burocratas da Frente Popular.

Espero que ele estabeleça o novo nas escolas. Já disse em outros momentos neste blogue que a escola deve se transformar em o centro de encontro da juventude para assistir a bons filmes, para ouvir música, para dançar, para ver belas peças de teatro.

Além disso, o governo deve propagar na TV e nas rádios esses grandes eventos para a sociedade.

Enquanto isso não vem - se é que virá -, eu danço com meus alunos ao som de "Sangue Bom", de Marcelo D2.

quinta-feira, junho 09, 2011

Milagre

Quando a noite ancorar a beleza do céu em meus olhos, desejarei apenas o manto de tua pele sobre a minha, desejarei apenas a minha vida intensa sobre a tua.

Sentir na carne o teu suor regando minha alegria.

Dos tantos versos que já ofertei a teus olhos, Milagre, se não for o mais intenso, é um dos.

Por isso, Mony, deixo aqui, mais uma vez, a poesia que escrevi para teus olhos, porque teu destino devolveu ao meu o sentido da vida.

Toda noite dos namorados é noite de Milagre.

Em igrejas à espera de milagres,

eu, à margem do corpo de Cristo,
entre o fim da tarde e a chuva fina,

ajoelho-me e, por teu nome, rezo a finco.

Que teu corpo nu, sem espinho, sem prego e cruz,
traga, como novo messias, à minha esperançosa carne,

o milagre de tua luz:

chama, despido corpo, me chama, e eu, safado santo,
subo ao sagrado altar, tua cama, para ser pecador feliz.

Sinto pena das igrejas, sinto tanto.

Para teus fiéis, me eternizo surdo, e tua língua nem falo.
Mas, em tua boca litúrgica, batizo-me com tua saliva.

Teu gozo, abençoada prece. Teu corpo, como não amá-lo?

E, sem crer no pão e no vinho, molho minha semente em tua fissura para germinar vida.
Entre tuas pernas, minha reza, meu clímax: Deus, eis a oferta!!!

Olhe no meu olho, Amada, olhe, veja-nos e sinta!!!



terça-feira, junho 07, 2011

Eles paralisaram as aulas, mas eu lecionei

Hoje, mais um dia de paralisação na rede pública de ensino estadual, e eu lecionando na escola Heloísa Mourão Marques.

O Sindicato dos Professores Licenciados do Acre (Sinplac) não aceitou a proposta do governo, 15% em três vezes. O sindicato exige um acordo de 20%, dividido em quatro vezes: julho, janeiro de 2012, abril de 2012 e outubro de 2012.

Na sexta-feira, dia 10, outra paralisação para definir se os professores cruzarão os braços por tempo indeterminado caso o governo não aceite a porcentagem do corpo docente. Fonte do governo afirmou que não abrirá mão dos 15% para todos os servidores. "É isso ou nada", disse um membro de governo.

Até agora, os professores da escola Heloísa Mourão Marques irão repor três dias de aula; eu, dois dias.



sexta-feira, junho 03, 2011

Um outro modelo de sala


Quando desejamos ouvir a palavra, precisamos desta essência: o silêncio. O pequeno príncipe e o piloto dialogam no deserto. Nesses meus quase 15 anos de escola pública acriana, não me lembro de ter ficado no deserto para que a palavra fosse lida, pensada, percebida em uma narrativa, em um drama ou em uma poesia.

As escolas são barulhentas, não há nelas um lugar-leitura, isto é, um deserto onde possamos ouvir a palavra desenhada e pintada pela poesia ou por um belo romance. Uma vez em sala, a palavra literária é corrompida pelo ruído, pelo tumulto de corredores.

Na escola Heloísa Mourão Marques, por exemplo, edificaram as salas perto da rua. Assim, quando um carro passa com a excrescência de um Calcinha Preta, calo-me em sala porque não posso competir com os ruídos da rua, além dos ruídos de corredores, de outras salas.

Ainda sim, de alguma forma, sempre busquei ler ótimos autores ficcionais na escola pública. Sempre. Após tantos anos, finalmente, o aconchegante silêncio na escola Heloísa Mourão Marques. Agora, podemos ler no deserto.

A responsável por isso, soletre: OS-MA-RI-NA, a diretora. Ela possibilitou uma Sala de Leitura, a única do estado para o ensino médio. Mais: a única escola de ensino médio onde obras literárias são lidas.

Com essa sala, com esse deserto, com esse lugar-leitura, poderemos ouvir a palavra literária de um Drummond, de um Dino Buzzati, de um Kafka, de um Castro Alves, de um Raduan Nassar.

Desejo ver meus alunos nessa sala deitados, sentados no chão, só lamento não ser possível colocar belas redes para eles se balançarem. Nela, há dois tapetes - haverá mais -, existem duas mesas para alunos, assentos confortáveis, um chão limpo para os pés ficarem descalços, há dois ventiladores silenciosos embora a sala seja arejada naturalmente.

Trata-se de um lugar-leitura para que possamos nos esquecer daquelas salas que incomodam o conhecimento, o saber. Nesse deserto, a palavra literária encontra-se em paz, silêncio.

quarta-feira, junho 01, 2011

Prazer

De Aldo Nascimento


Criado para ser encontro, o Corpo sussurra na pele do ser apaixonado a mais profunda carência. Sozinho, o corpo seria triste porque negaria sua própria natureza, que é se sentir, sentindo-se, em outro corpo. O Prazer nos alegra!

E é assim que a desejo e é assim que, aos poucos, me aproximo. Em gestos delicados, condenso agora toda emoção em um toque, mas, antes que eu a tocasse, precipitei-me em suor. As mãos gelaram-se. Meu Corpo, orgulhoso, estremeceu-se. Ao te tocar, perceba: fragilizo-me.

Sim, eu sinto. Mais: por meio de ti, eu me sinto. Se não fosse você, sozinha, eu desconheceria a desmedida de minha felicidade, que é, sob os desvios de tuas carícias, sentir minha carne suavizar-se.

Tua pele... na minha... minha carne, já molhada e febril, confessa: ofereces a mim o prazer de estar onde sempre desejei estar – em teu Corpo, lugar-carne que me acolhe; extrai de mim a certeza de que estou viva, imensa, alegre. Quase infinita.

Perceba. Sou oferenda entregue a essa humana carência de ser desejada por ti. Feliz carícia que desliza. Fragiliza-me. Retira-me da solidão. Por causa de ti, faço-me presente para não mais, a mim, pertencer. Olhe, escute-me, eu o amo!

Imerso em suor e entre gemidos, eu, também, a amo, mais ainda quando meu Corpo está em transe, mais ainda quando minha carne se declara insana. Corpo que se contorce. Agiganta-se. Foge ao controle. Rebela-se. Transpira. Geme. Grita. Exagera.

Já pressinto o gozo, sensação de que irei, por alguns segundos, me desencarnar. Minha carne já pode sentir o sabor suado dessa vertigem. Quando gozamos, tenho a impressão de que somos lançados ao não-lugar, restando a essa breve viagem fechar os olhos e... hummmmmmmm! Deus, Deus, milagre!

Agora, após o êxtase, meu Corpo, cansado e feliz, tomba sobre o teu, e, ao teu ouvido, sussurro que, sem você, eu jamais poderia sentir, sozinho, o que senti em minha carne e em meu espírito. Tu foste o caminho por onde cheguei, mais sensível, a mim mesmo. Por meio de ti, sou devolvido a mim muito mais feliz. Só o Outro, você, essa minha diferença, possibilitou o excesso.

Saboreando tua carne, movimentando-me ao seu bel-prazer, vivi a alegria de não mais a mim pertencer. Fui teu. Saborosamente, teu.