segunda-feira, junho 18, 2007

Eu-lírico (1)

No início de Dom Quixote, o narrador nos conta que "encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamento (...); e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia (...)."

Quem leu a obra de Cervantes sabe que seu personagem interpreta e decide não acreditar no que vê. Dom Quixote nos ensina a suspeitar do que vemos.

Por causa disso, ela, a fantasia, Dom Quixote encheu-se dela. Na raiz da palavra, "fantasia" significa "visão das sombras".

Assim, pela fantasia, a visão de Dom Quixote inverte o que vê, focaliza "o outro lado". Há nesse protagonista a linguagem do eu-lírico, porque sua visão deseja o "outro lado", isto é, "o verso".

A linguagem poética é essa expressão inconformada com o que vê, por isso o verso, o outro lado da página... da vida.

Em José, obra poética de Carlos Drummond de Andrade, páginas obrigatórias para o vestibular da Universidade Federal do Acre, o eu-lírico expõe uma inadequação entre o eu e o mundo logo na primeira poesia, A bruxa.

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