segunda-feira, julho 30, 2007

Na Folha de São Paulo

As regras do jogo

De Alba Zaluar

UMA NOVA ideologia apostou na denúncia do elitismo como se fosse o mal do Brasil. As elites, no entanto, jamais gozaram do consenso dos intérpretes da sociedade. Há os que as consideram, sempre no plural, como o conjunto dos que se destacam como os melhores em vários ramos de atuação; e há os que vêm nelas, às vezes no singular, como os que detêm os postos-chaves das decisões políticas, ou seja, os que mandam.

Os primeiros têm valor e influência, os segundos têm poder. Mas a discussão só fica interessante quando se debate como se formam, ou seja, como são recrutadas ou escolhidas as pessoas que as compõem; se elas atuam ou não em missões civilizatórias da sociedade, ou seja, qual a sua capacidade de liderar os comuns mortais; e como instituem as regras do jogo com as quais depois vão agir, ou seja, se são capazes de criar leis que "pegam" para elas e para todos os demais.

O mal do Brasil não é a existência de elites, mero termo descritivo para os que se destacam ou os que mandam, fato observado em todo este vasto mundo. O mal do Brasil está no modo de recrutamento, na fragilidade da missão civilizatória (para não dizer no fracasso), na criação de regras que valem para os outros mas que são sistematicamente quebradas por membros das elites que mandam.

As elites políticas contam com os privilégios agraciados pelo clientelismo, pela falta de responsabilização pública de suas decisões, pela impunidade de seus atos transgressores. Temos o jogo parlamentar, mas cheio de imperfeições que clamam por conserto.

É por isso, como já assinalou Roberto da Matta, que os brasileiros são tão fascinados pelo futebol. Agora, em tempos de Pan, é preciso incluir as muitas modalidades de esporte. Os escolhidos como melhores são os que realmente se destacaram, as regras criadas têm validade universal e árbitros decidem na frente de todos, que podem manifestar imediatamente o seu protesto.

A vaia aponta o limite do poder de decidir acima dos demais, quando contra o senso de justiça que todos têm. Basta ver as cores do espectro nas peles dos atletas, seus sotaques de todas as regiões do país, as origens humildes, as mulheres no futebol, o menino de rua com medalha de ouro, a aluna da escola pública também, e tudo aquilo que fez as platéias torcerem e se orgulharem do bom Brasil.

O Brasil das elites dos melhores. Brasileiro não desiste, berra a platéia para o quase campeão. Até quando as elites dos que mandam vão abusar da paciência e do senso de justiça aprendidos em outras arenas, especialmente no esporte, do povo brasileiro?
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ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta coluna.

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