segunda-feira, agosto 20, 2007

Abusar da escola pública

Hoje, pela manhã, recebi a informação de que não haverá aula amanhã, porque a escola pública Heloísa Mourão Marques fará uma passeata contra a violência em Rio Branco.

Já pensou se as escolas públicas do Rio de Janeiro resolvem cancelar suas aulas para protestar contra a violência na terra de Tom Jobim?

O que me causa desconforto é que a escola não tem um calendário para cumprir metas e, dessa forma, buscar qualificar o ensino público. Nós não temos nem Plano Político Pedagógico. Em outras palavras, a escola que fará uma passeata contra a violência comete a violência de não qualificar seu ensino. Violência no sentido de cometer rupturas contra suas obrigaçõe e seus deveres.

Só para falar do semestre passado, meus alunos deixaram de ter 33 aulas de Língua Portuguesa. Dez aulas foram consideradas por causa da gincana. Quanto à gincana, tudo bem, porque se trata de uma atividade lúdica que incluiu, também, conhecimento.

Agora, incluir passeata como aula, convenhamos, considero abusar da coisa pública. Mesmo assim, meus alunos ficaram sem 13 aulas. Isso é um tipo de violência.
E eu não falto. Só faltei no semestre passado, porque fiquei internado e, como não sou diretor, apresentei atestado médico e pedido de internação do médico.

Não sou pago pelo Estado do Acre para fazer passeata, sou pago para lecionar, e bem, ainda que não receba tão bem. A escola ficou em luto por dois dias e teve gente que enforcou ainda na sexta, aproveitando-se de um luto. Na terça, amanhã, a escola irá parar ainda por causa desse luto.

Pior, a passeata poderá ainda servir como aula. Já serviu no passado. "Trata-se de uma aula diferente", como já ouvi.
Isso, para mim, não é aula. Isso é abusar da coisa pública.

Nenhum comentário: