De Aldo Nascimento
Atrás do palco, a Candelária compunha o cenário político que se completava com uma avenida populista, a Getúlio Vargas. O deus Tempo contava 1989, ano em que assisti no Rio de Janeiro ao comício de Lulalá, candidato a presidente da República.
Se era muito difícil chegar a Brasília, sonhava com o Partido dos Trabalhadores no poder estadual ou municipal para promover uma transformação radical na cultura. Mas o PT no Rio de Janeiro se complicou e só pude ver o partido de Henfil no poder quando, anos depois, em 1994, já no Acre, Jorge Viana deixou suas digitais na prefeitura da capital e depois no Palácio Rio Branco.
Mas o sonho de ver uma transformação radical na cultura não se realizou, porque, quando o cenário é o teatro, o Partido dos Trabalhadores apresenta-se de forma conservadora, acanhada. Não me refiro à Usina de Cultura João Donato, espaço à margem do centro e delimitado por paredes. Refiro-me a intervenções no espaço urbano por meio da ficção, por meio da voz do teatro. Uma ação estética imprópria para amadores.
Quem apreciei realizando essa ação no espaço urbano foi Ivan de Castela. O PT, contudo, apropriou-se desse nome para ser imagem de governo. Enquadraram-no. Reconfiguraram o artista. O poder calou a voz ficcional. Em seu lugar, burocratas remunerados da cultura emitem seus ruídos pela TV, pseudo-intelectuais escolhidos pelo dedo descriterioso da amizade ou pelo lastro genético de famílias tradicionais acreanas. Há exceções, eu sei, são poucas.
Ontem, pela manhã, entrei no ônibus para trabalhar no centro de Rio Branco. Recebo pouco menos de R$ 500 por mês, e meu trabalho me aliena. Vindo do bairro Calafate, a rotina realista guia meu destino há anos. Hoje, porém, a surpresa abriu meus olhos, tocou em meus ouvidos.
Com roupas coloridas, diferentes do comum, dois artistas falaram da vida, das injustiças, da ordem do mundo e, no final, já no terminal de ônibus, disseram nomes que nunca ouvi: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, Cruz e Sousa, Paulo Leminski.
Depois, com muita calma, explicaram: “Essa apresentação foi uma maneira de mostrar a vocês poetas que precisam estar vivos na vida, porque suas palavras raras dizem o que o mundo cala.” Colocou a mão no bolso e retirou um papel. “Chamamos ‘atrás da folha’ verso, isto é, por meio do verso, lemos o que está atrás das coisas, do mundo, da realidade.”
Mas a surpresa não tinha chegado ao fim. Quando saí do ônibus, já no terminal de ônibus, muitos, mais de 30 Ivans, com seus trajes de artistas, expressaram outras poesias por meio de vozes que me emocionaram.
Quem bom saber que o PT surpreende os trabalhadores com um ótimo teatro de rua. O PT mostrou ser diferente de outros partidos quando o assunto é cultura. Nesse aspecto, ele é revolucionário.
Duas vezes por semana, essas intervenções ocorrem em Rio Branco, porque, sem os versos desses poetas consagrados, o ônibus que vem dos lugares sem teatro conduz tristezas, emudecimento, a morte das palavras. São passageiros empobrecidos pelo cansaço de uma rotina que desencanta a vida.
Sonho... ainda sonho.
Atrás do palco, a Candelária compunha o cenário político que se completava com uma avenida populista, a Getúlio Vargas. O deus Tempo contava 1989, ano em que assisti no Rio de Janeiro ao comício de Lulalá, candidato a presidente da República.
Se era muito difícil chegar a Brasília, sonhava com o Partido dos Trabalhadores no poder estadual ou municipal para promover uma transformação radical na cultura. Mas o PT no Rio de Janeiro se complicou e só pude ver o partido de Henfil no poder quando, anos depois, em 1994, já no Acre, Jorge Viana deixou suas digitais na prefeitura da capital e depois no Palácio Rio Branco.
Mas o sonho de ver uma transformação radical na cultura não se realizou, porque, quando o cenário é o teatro, o Partido dos Trabalhadores apresenta-se de forma conservadora, acanhada. Não me refiro à Usina de Cultura João Donato, espaço à margem do centro e delimitado por paredes. Refiro-me a intervenções no espaço urbano por meio da ficção, por meio da voz do teatro. Uma ação estética imprópria para amadores.
Quem apreciei realizando essa ação no espaço urbano foi Ivan de Castela. O PT, contudo, apropriou-se desse nome para ser imagem de governo. Enquadraram-no. Reconfiguraram o artista. O poder calou a voz ficcional. Em seu lugar, burocratas remunerados da cultura emitem seus ruídos pela TV, pseudo-intelectuais escolhidos pelo dedo descriterioso da amizade ou pelo lastro genético de famílias tradicionais acreanas. Há exceções, eu sei, são poucas.
Ontem, pela manhã, entrei no ônibus para trabalhar no centro de Rio Branco. Recebo pouco menos de R$ 500 por mês, e meu trabalho me aliena. Vindo do bairro Calafate, a rotina realista guia meu destino há anos. Hoje, porém, a surpresa abriu meus olhos, tocou em meus ouvidos.
Com roupas coloridas, diferentes do comum, dois artistas falaram da vida, das injustiças, da ordem do mundo e, no final, já no terminal de ônibus, disseram nomes que nunca ouvi: Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Fernando Pessoa, Cruz e Sousa, Paulo Leminski.
Depois, com muita calma, explicaram: “Essa apresentação foi uma maneira de mostrar a vocês poetas que precisam estar vivos na vida, porque suas palavras raras dizem o que o mundo cala.” Colocou a mão no bolso e retirou um papel. “Chamamos ‘atrás da folha’ verso, isto é, por meio do verso, lemos o que está atrás das coisas, do mundo, da realidade.”
Mas a surpresa não tinha chegado ao fim. Quando saí do ônibus, já no terminal de ônibus, muitos, mais de 30 Ivans, com seus trajes de artistas, expressaram outras poesias por meio de vozes que me emocionaram.
Quem bom saber que o PT surpreende os trabalhadores com um ótimo teatro de rua. O PT mostrou ser diferente de outros partidos quando o assunto é cultura. Nesse aspecto, ele é revolucionário.
Duas vezes por semana, essas intervenções ocorrem em Rio Branco, porque, sem os versos desses poetas consagrados, o ônibus que vem dos lugares sem teatro conduz tristezas, emudecimento, a morte das palavras. São passageiros empobrecidos pelo cansaço de uma rotina que desencanta a vida.
Sonho... ainda sonho.
3 comentários:
Lindo este seu texto, pois a maioria das pessoas está desencantada pelo cansaço de tanto lutar. Que bom que existem sonhadores como NÓS. Um abraço e nos prestigie sempre com estas palavras que tocam o mais profundo das almas sensíveis. Alessandra (Acadêmica do Curso de Filosofia)
Lindo este seu texto, pois a maioria das pessoas está desencantada pelo cansaço de tanto lutar. Que bom que existem sonhadores como NÓS! Um abraço e nos prestigie sempre com estas palavras que tocam o mais profundo das almas sensíveis. Alessandra (Acadêmica do Curso de Filosofia)
Obrigado por tuas palavras. Ainda desejo escrevinhar mais sobre isso. Acredito que a luta dos estudantes hoje é questões culturais. Um abraço em teu destino.
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