Nesses meus anos no Acre, ouvi muitas vezes de evangélicos desqualificados que homossexuais não são criaturas de Deus. Sujos, essas anomalias disseminam promiscuidade, devassidão, luxúria, pecados aos olhos de seres humanos normais. “O Senhor criou o homem e a mulher no Paraíso, não o homossexual”, disse-me um pastor.
Respondi-lhe que também não havia prostituta no Paraíso, porém Jesus, mesmo assim, impediu que Madalena fosse apedrejada. Há muito tempo, esses fanáticos atiram pedras em homossexuais porque a Madalena de ontem é o gay, é o travesti, é a lésbica de hoje.
“Atire a primeira pedra quem não pecou.” Os homófobos cristãos, entretanto, por acharem que não pecam, por acharem que são puros, atiram suas pedras imensas e pesadas como a verdade. O Deus desses evangélicos é másculo e, em sua divina masculinidade, ergue sua viril homofobia.
Mas quem pensa que eles entregam tudo à lei de Moisés comete um judaico engano. O Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb) questionava uma lei paulista que pune administrativamente quem discriminar alguém devido à orientação sexual.
Por causa dessa lei, a 10.948/01, o Cimeb afirmava que a Constituição estava sendo “rasgada e aviltada” pela criação de uma lei estadual que protege um grupo específico da sociedade. Os pastores evangélicos ligados ao conselho lembraram que outros grupos - mulheres, idosos, negros, nordestinos, divorciados, casais que não têm filhos, evangélicos, religiosos africanos, católicos e judeus - também sofrem discriminação sem ter uma lei semelhante.
Os homófobos da fé definiram a lei como uma “mordaça” que viola o direito constitucional de liberdade do pensamento. “A manifestação pública sob o ponto de vista moral, filosófico ou psicológico contrário aos homossexuais é passível de punição”, afirmam os “puros”. Contrariando as pedras desses evangélicos, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou na semana passada a ação judicial do Cimeb, graças a Deus.
Poderia exemplificar outros casos, mas esse do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil deixa bem claro que evangélicos - os únicos representantes, segundo eles, de Deus na Terra - ambicionam um Poder Legislativo que seja a extensão da lei judaica, patriarcal e máscula.
Em Êxodo (32 :25-29), esse mesmo Deus-homem, criador da lei, ordena que Moisés retire a vida dos seus: “(...) e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho (...).” Antes, ainda em Êxodo (11:5-7), esse Deus ordena que “todo primogênito na terra do Egito morrerá (...).” O Deus de Israel mata crianças, seres inocentes e puros, para que o Faraó liberte o povo hebreu. Ainda hoje, esse Deus de evangélicos mata crianças palestinas, sufocando-as lentamente em um campo de concentração chamado Faixa de Gaza.
Certa vez, abrindo suas páginas, Carlos Drummond de Andrade disse aos meus olhos... “quando digo ‘meu Deus’/afirmo a propriedade./Há mil deuses pessoais/em nichos da cidade.” Se é assim, eu não creio em um Deus que mata ou em um Deus que chama homossexuais de sujos. O meu Deus não segura na mão da intolerância a pedra imensa e pesada da verdade.
Assim como no jardim há várias cores, várias formas e vários aromas, o meu Deus criou verdades. Nele, cabem os povos com suas línguas e com seus livros: Bíblia, Alcorão. Que triste seria a vida se houvesse arco-íris com uma só cor. Se há beleza na vida, é porque nela pulsa a diversidade das cores. O meu Deus é mulher. O meu Deus é homem. O meu Deus também é gay.
Na Semana da Diversidade, homossexuais não matarão seu semelhante, porque, do semelhante, eles desejam o corpo para o gozo, para o beijo, para o amor. Que homens beijem seus homens e que mulheres beijem suas mulheres sem perder na intimidade a dignidade humana, e essa dignidade não se encontra no orifício. Conheço muitos homossexuais mais dignos que heterossexuais.
Tanta fome neste país. Tanta miséria nesta pátria. Por entre os dedos de políticos, sai tanta injustiça social. O meu Deus tem mais o que fazer, não fica olhando para o rabo dos outros.
Respondi-lhe que também não havia prostituta no Paraíso, porém Jesus, mesmo assim, impediu que Madalena fosse apedrejada. Há muito tempo, esses fanáticos atiram pedras em homossexuais porque a Madalena de ontem é o gay, é o travesti, é a lésbica de hoje.
“Atire a primeira pedra quem não pecou.” Os homófobos cristãos, entretanto, por acharem que não pecam, por acharem que são puros, atiram suas pedras imensas e pesadas como a verdade. O Deus desses evangélicos é másculo e, em sua divina masculinidade, ergue sua viril homofobia.
Mas quem pensa que eles entregam tudo à lei de Moisés comete um judaico engano. O Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb) questionava uma lei paulista que pune administrativamente quem discriminar alguém devido à orientação sexual.
Por causa dessa lei, a 10.948/01, o Cimeb afirmava que a Constituição estava sendo “rasgada e aviltada” pela criação de uma lei estadual que protege um grupo específico da sociedade. Os pastores evangélicos ligados ao conselho lembraram que outros grupos - mulheres, idosos, negros, nordestinos, divorciados, casais que não têm filhos, evangélicos, religiosos africanos, católicos e judeus - também sofrem discriminação sem ter uma lei semelhante.
Os homófobos da fé definiram a lei como uma “mordaça” que viola o direito constitucional de liberdade do pensamento. “A manifestação pública sob o ponto de vista moral, filosófico ou psicológico contrário aos homossexuais é passível de punição”, afirmam os “puros”. Contrariando as pedras desses evangélicos, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou na semana passada a ação judicial do Cimeb, graças a Deus.
Poderia exemplificar outros casos, mas esse do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil deixa bem claro que evangélicos - os únicos representantes, segundo eles, de Deus na Terra - ambicionam um Poder Legislativo que seja a extensão da lei judaica, patriarcal e máscula.
Em Êxodo (32 :25-29), esse mesmo Deus-homem, criador da lei, ordena que Moisés retire a vida dos seus: “(...) e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho (...).” Antes, ainda em Êxodo (11:5-7), esse Deus ordena que “todo primogênito na terra do Egito morrerá (...).” O Deus de Israel mata crianças, seres inocentes e puros, para que o Faraó liberte o povo hebreu. Ainda hoje, esse Deus de evangélicos mata crianças palestinas, sufocando-as lentamente em um campo de concentração chamado Faixa de Gaza.
Certa vez, abrindo suas páginas, Carlos Drummond de Andrade disse aos meus olhos... “quando digo ‘meu Deus’/afirmo a propriedade./Há mil deuses pessoais/em nichos da cidade.” Se é assim, eu não creio em um Deus que mata ou em um Deus que chama homossexuais de sujos. O meu Deus não segura na mão da intolerância a pedra imensa e pesada da verdade.
Assim como no jardim há várias cores, várias formas e vários aromas, o meu Deus criou verdades. Nele, cabem os povos com suas línguas e com seus livros: Bíblia, Alcorão. Que triste seria a vida se houvesse arco-íris com uma só cor. Se há beleza na vida, é porque nela pulsa a diversidade das cores. O meu Deus é mulher. O meu Deus é homem. O meu Deus também é gay.
Na Semana da Diversidade, homossexuais não matarão seu semelhante, porque, do semelhante, eles desejam o corpo para o gozo, para o beijo, para o amor. Que homens beijem seus homens e que mulheres beijem suas mulheres sem perder na intimidade a dignidade humana, e essa dignidade não se encontra no orifício. Conheço muitos homossexuais mais dignos que heterossexuais.
Tanta fome neste país. Tanta miséria nesta pátria. Por entre os dedos de políticos, sai tanta injustiça social. O meu Deus tem mais o que fazer, não fica olhando para o rabo dos outros.
2 comentários:
A guerra santa ja começou faz tempo... os evagélicos (ditos eleitos para o céu ¬¬) ja a iniciaram.
Mas a liberdade que o próprio ser humano quer, o seu semelhante a condena.
hahaha
ótimo texto!
viva a diversidade!
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