sábado, maio 29, 2010

De amantes a casados

Só os amantes sabem aproveitar o tempo, só eles sabem o valor ímpar de um breve instante.

E se, nesse breve momento, alegram-se, é porque o tempo dos amantes é "às vezes".

É esse "nem sempre" que extrai deles o cansaço das horas contínuas, a monotonia do previsível.

"Quando?"
"Não sei, talvez amanhã, quem sabe".

Entre eles, sempre a lacuna, sempre o espaço sem as horas contínuas. Assim, sem saberem quando será o próximo encontro, o próximo instante, eles sentem a presença intensa da ausência do outro.

Na falta, sente-se no peito a dor, a saudade, é como se a morte espreitasse os amantes. Nessa ausência, momento de solidão, (des)cobre-se então que o breve tempo vivido com o ser amado não pode ser desperdiçado, por exemplo, com brigas.

Só os casados perdem tempo com discussões, com desencontros, não os amantes. De tanto viverem a monotonia dos dias, de tanto o tempo ser saturado pela rotina, os casados não mais se surpreendem nas horas. No casamento, a saudade não pulsa.

É preciso que um morra para que o outro sinta falta. É preciso que um vá embora para que o outro sinta falta. Mas aí pode ser tarde demais.

Um comentário:

amantes outra vez disse...

Concordo com todas as palavras deste post.Está muito bem escrito. Descreve muito bem o valor que damos àqueles pequenos momentos...