sexta-feira, julho 09, 2010

O Milagre da Carne

Em um mundo onde ser vulgar é a regra até em igrejas, a poesia salva a palavra Corpo. Há dias, engravidei-me de poesia e, horas suadas depois, meus dedos pariram palavras que abençoam minha Carne e minha Alma. Ei-las:

Milagre

Em igrejas à espera de milagres,

eu, à margem do corpo de Cristo,
entre o fim da tarde e a chuva fina,

ajoelho-me e, por teu nome, rezo a finco.

Que teu corpo nu - sem espinho, sem prego e cruz -
traga, como novo messias, à minha esperançosa carne,
o milagre de tua luz:

chama, despido corpo, me chama, e eu, safado santo,
subo ao sagrado altar, tua cama, para ser pecador feliz.

Sinto pena das igrejas, sinto tanto.

Para teus fiéis, me eternizo surdo, e tua língua nem falo.
Mas, em tua boca litúrgica, batizo-me com tua saliva.

Teu gozo, abençoada prece. Teu corpo, como não amá-lo?

E, sem crer no pão e no vinho, molho minha semente em tua fissura para germinar vida.
Entre tuas pernas, minha reza, meu clímax: Deus, eis a oferta!!!

Olhe no meu olho, Amada, olhe, veja-nos e sinta!!!

2 comentários:

Mony disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nielsen O. Macambira Braga disse...

O tema lembrou-me "A Carne", romance naturalista de Júlio Ribeiro. Tão bom de ler, curtinho, mas que prende a atenção... do tipo que se lê num fim de semana. Parabéns pela verve poética. A parte das beatas foi a melhor, lá no fundo em maior ou menor grau, todas recalcadas. Também acho Cristo desnudo numa igreja um contracenso e ao mesmo tempo algo erótico em detrimento do 'sagrado' que os templos religiosos tanto exaltam... De qualquer forma, Cristo não era hipócrita, as pessoas que o descreveram, sim!