Texto referente à epígrafe de Lewis Carroll:
“Cuidai do sentido, e as palavras
irão por si mesmas ao lugar certo.”
Ao
escrever “cuidai do sentido”, penso onde as palavras não são cuidadas. Antes, no
entanto, uma pergunta: o que é cuidar?
No dicionário Houaiss, o primeiro significado é meditar com ponderação. De um, fomos para dois termos. Então, quais
os significados originais de meditar e
de ponderar? Aquele vem de medir; e este, de peso. Quem medita
mede e quem pondera pesa. Ora, quando medimos, marcamos o limite,
e, por causa do peso, vamos a fundo. Cuidar
é, pois, isto: “marcar o limite com a profundidade do sentido”.
Mas
onde as palavras não têm limite e muito menos profundidade? Não leio outro
termo a não ser este: vulgaridade. Com seu visgo, o vulgar gruda-se ao significante
para disseminar significados inautênticos, dando ao senso comum a segurança do
imediato, e o imediato, o prático, sabemos, opõe-se à reflexão. A linguagem ordinária, por ser bruta, por ser
coisa, por ser útil, não cuida da palavra a fim de que ela, a própria palavra, dê
a nós sentido.
Onde então
as palavras são cuidadas? onde elas, uma vez cuidadas, irão ao lugar certo? Digo
que estão neste lugar onde se marca o limite com a profundidade do sentido, qual
seja, na poesia.
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