sábado, abril 12, 2014

Eu li muito em...


Ser, eu disse ser, professor é caminho longo, nunca se é professor no começo de profissão. Até descobrirmos que não ensinamos, até descobrirmos que nunca sabemos, levamos um tempo nos enganando como professorais.

Encarnar a leveza de falar a alunos leva muito tempo; um certo bom hálito de alegria em sala, uma certa resistência do afeto, segundo Espinosa, só as horas vagarosas do tempo ofertam à alma e à carne.

Lecionar é para poucos, porque exige de nós uma certa estética da desobediência ordenada, e poucos conhecem a beleza do que ser barroco.

Ser professor é profissão que exige a reinvenção de nós mesmos por formas contraditórias. Quem deseja ser certinho em sala com sua fixa didática jamais será professor.

Lecionei em escolas onde havia todo motivo para eu não ler um bom livro em sala de aula ou no pátio, mas eu lia; eu me alegrava com a leitura; eu exigia atenção com a minha admiração de ler palavras.

Li onde não havia sala de leitura. Li onde não havia quem tivesse interesse por leitura. Li onde barulho incomodava. Li onde me diziam para não ler. Li para alunos que não tinham condições de comprar livro.

Li. Li. Li. E muitos alunos leram comigo. Muitos. Li a vida em páginas. Li muitos filmes também com eles. Quantas vezes fomos ao teatro, ao cinema e aos livros.

Li porque me fiz professor. Li para não ser esquecido por meus alunos como leitor. Enquanto leitor. Leitor.

Nenhum comentário: