sexta-feira, março 02, 2007

Amazônia: de Galvez a Chico Mendes







Não conheço nenhum abismo ou penhasco na Floresta Amazônica, mas a Glória Perez colocou a audiência de sua minissérie em queda livre.

Os números são inferiores à minissérie JK. Sua audiência não se compara às cenas de Hoje é Dia de Maria.
Amazônia: de Galvez e Chico Mendes despenca na audiência como O Clone e América.
O que fazer? Uma microssérie estreará em julho, é A Pedra do Reino, dirigida pela inteligência sensível dele, o mesmo diretor de Lavoura Arcaica e Hoje é Dia de Maria, sim, ele: Luiz Fernando Carvalho. Luiz baseia-se no texto de Ariano Suassuna.
Muito oposto à proposta estética de Glória Perez e de Marcos Schechtman (foto à esquerda), Luiz Fernando é senhor de um trabalho artesanal, imaginário. É como ele mesmo diz.
"O desafio é manter o mistério, a ambigüidade, o diálogo entre o que você vê e o que não vê. O desafio é diminuir a alta definição."
Abaixo, um texto de
_Carla__Neves________
Apesar de contar de maneira interessante a pouco conhecida História do Acre, a trama de Glória Perez peca pelas cenas previsíveis e pela escassez de cenários. Não se nota ousadia na câmara e na edição. O diretor Marcos Schechtman sempre opta pelos enquadramentos mais óbvios.
Além disso, muitas vezes, nota-se uma falta de fidelidade histórica, principalmente no que diz respeito aos seringueiros. Eles defendem posições política e ecológica impensáveis para o período histórico retratado na trama.
Em contrapartida, Amazônia prende a atenção através da minuciosa produção de arte e da maneira detalhada de retratar os contrastes sociais nos áureos tempos da extração da borracha. Outro acerto da minissérie está em reunir um elenco experiente, lindas paisagens da Amazônia, um figurino impecável e uma dosagem perfeita de ficção e realidade.
A escalação de José de Abreu e José Wilker foi acertada. Ao lado de Christianne Torloni, que encarna a espanhola Maria Alonso, Wilker está primoroso como o engajado Galvez. José de Abreu, por sua vez, esbanja segurança como o autoritário coronel Firmino. São bem verossímeis as cenas em que o ácido dono de seringal maltrata os seus colonos.
Débora Bloch também constrói uma agradável Beatriz, que decide ir para Manaus morar com a irmã, dizendo a todos que ficou viúva. A atriz está tão bem na minissérie que, até sem falar, consegue se expressar melhor do que muitos dos seus colegas de elenco. O mais surpreendente, porém, tem sido o grande desempenho de Jackson Antunes como Bastião, que encarna um nordestino que migra para o Acre na tentativa de ganhar dinheiro com a extração do látex.
A atuação de Regina Casé é de idêntico acerto. Como a impagável parteira Maria Ninfa, a atriz consegue divertir o público. É impressionante a maneira como ela torna engraçadas as situações mais miseráveis da minissérie.
Assim como Regina Casé, Antônio Calloni tem feito bonito como o Padre José, inspirado em uma figura real e muito querida pelo povo acreano. O ator acertou em cheio ao abandonar o seu insosso Gustavo, de Páginas da Vida, para se dedicar à composição do padre que faz partos, distribui remédios e conselhos e adora contar histórias mirabolantes para os seringueiros.
Nem a mudança de horário, que tem aborrecido alguns admiradores da minissérie que odeiam o Big Brother, e tampouco uma certa idilização da saga da borracha, ofuscam o brilho da trama de Glória Perez, tão envolvente que vale a pena esperá-la. Mesmo que seja até tarde da noite.

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