sábado, agosto 30, 2008

Missa Poética de Sétimo Dia

Hoje, faz sete dias que meu amado tio Dílson foi sepultado. Imagino uma capela. Dentro dela, um padre abre não a Bíblia, mas uma poesia. Muito atento aos versos, ouço a missa.














"A poesia se chama Quando vier a primavera", diz o sacerdote. "Escutem-na."

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é
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E terminou sua missa poética de sétimo dia, dizendo apenas: "Vão, meus filhos, e levem com vocês essa poesia de Alberto Caeiro."

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