quinta-feira, agosto 14, 2008

Uma boa idéia

Ainda guardo comigo um jornal escrito por alunos da quinta série. Foi uma experiência inovadora e sempre ignorada pela Secretaria de Educação do Acre.

Podem falar mal de Antônio Stélio - eu reconheço alguns de seus defeitos -, mas não posso ignorar que Stélio dava liberdade ao Página 20 para criar. Sem ele, este jornal não teria sido publicado.

Ainda sonho com essa realidade educacional. Espero que, na administração da Osmarina, possamos criar um jornal com os alunos, páginas escritas por eles. Fazer pauta em sala de aula e sair da escola para entrevistar, ouvir pessoas do bairro, ouvir professores, elaborar boas críticas, elaborar propostas, ou seja, criar textos que não se reduzam à sala de aula, mas que tenham uma dimensão social.

Uma breve história

Na capa deste jornal, aparece um aluno que revi mais tarde em Rio Branco. Ele tinha assassinado, em legítima defesa, um homem que tentou matar seu irmão. Pobre, sem um bom advogado para pagar, ele me disse que ficou na cadeia por um tempo.

Um jornal escolar poderia entrevistar esse meu ex-aluno para falar de sua vida, de seu período na cadeia, de seus sonhos, mas, como a Frente Popular na Secretaria de Educação nunca me acenou com uma real possibilidade de criar um jornal na escola Heloísa Mourão Marques, a língua portuguesa só serve para obter bons resultados no Enem.

Eu não falo de holofotes para o Enem. Eu falo de uma lingua portuguesa com jornalismo na escola como trabalho social. Eu soube que na Secretaria de Educação há processos arquivados, documentos contra mim, mas não há em minha pasta funcional um jornal escrito por meus alunos como trabalho inovador na escola. Existem acusações e, quanto a um reconhecimento, recebo indiferença.

Hoje, uma colega me perguntou qual o sentido de estar vivo neste país. Calei-me na hora. Nesta bolha (blog), digo que o sentido da vida é lutar para construir o melhor, mas sabendo que amanhã é dia de morrer para ser lembrado, no máximo, em uma missa de sétimo dia.

Quero dizer com isso que leciono em salas quentes, lugares onde o ventilador não dá sinal de vida, sem esperar nenhum escroque reconhecimento do poder, e nem o quero. No fundo, eu sei, para muito além de relacionamentos pessoais, o poder me explora, me vigia, mente segundo seus interesses. Faz isso não por ser de esquerda ou de direita, mas porque é isto: poder.

Desejo, isso sim, o reconhecimento daqueles que estudaram comigo em sala, alunos que ultrapassaram os muros que coloquei diante deles. Jovens que param na rua para me cumprimentar, porque esses, só eles, sabem quem sou em uma sala de aula.

A Secretaria de Educação não sabe quem sou em sala de aula e, mesmo que soubesse...

Como disse Fernando Pessoa aos meus olhos, "viver é não conseguir". Ando tão feliz.

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