segunda-feira, abril 13, 2009

Qual o diagnóstico da redação?

De Aldo Nascimento
Na semana passada, a Secretaria Estadual de Educação aplicou uma avaliação diagnóstica no ensino médio para as disciplinas Língua Portuguesa e Matemática. Li as provas de Língua Portuguesa e, entre as questões, a ausência de produção textual. A secretaria não elaborou uma questão sequer relacionada à redação. Os alunos não escreveram.

No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no vestibular da Universidade Federal do Acre (Ufac), há redação; porém, no Programa de Avaliação Diagnóstica, a Secretaria Estadual de Educação não quis que alunos do ensino médio escrevessem, sabendo que as redações de nossos alunos são muito ruins por causa de um sistema que funciona para o aluno não escrever e não reescrever em sala de aula.

Se tivesse sido diagnosticada pela secretaria, saberíamos quais os problemas e as soluções para a redação. Isso, entretanto, foi ignorado pelos profissionais da secretaria, e nós sabemos que a redação representa um problema muito sério na rede pública de ensino.

Resta-me supor. Aplica-se uma prova de redação para diagnosticar a produção textual de nossos alunos. No primeiro ano do ensino médio, diagnostica-se que mais de 90% de nossos estudantes ignoram o uso correto da vírgula e do ponto contínuo. Com a avaliação diagnóstica em mão, a secretaria então elabora um material com problemas redacionais de alunos do primeiro ano do ensino médio. Depois, entrega esse material a cada gestor escolar do último ciclo do ensino fundamental, determinando que professores não permitirão que alunos cheguem ao primeiro ano do ensino médio sem saber usar vírgula e ponto contínuo. No ano seguinte, outra avaliação diagnóstica constatará se a escola conseguiu ou não ensinar aos alunos o uso correto da vírgula. Caso consiga, os professores receberão um abono, o que muito mais difícil.

Entretanto, como a secretaria ignorou por meio de sua consultoria a produção textual na prova diagnóstica, a redação na rede pública permanece sem rumo. Se houvesse avaliação diagnóstica de redação, mapear-se-iam problemas textuais no ensino médio. Sem cartografia, repito, a redação na rede pública encontra-se sem rumo.

Não só a produção textual, a Literatura também perdeu seu rumo na rede pública de ensino. Em verdade, nunca houve Literatura entre as quatro paredes de uma escola estadual, mas tão somente história da Literatura. Na condição de texto ficcional, o que desejamos com a Literatura no ensino médio?

Em sua avaliação, prova do primeiro ano, a secretaria pede ao aluno que releia o poema - na mesma questão chama de poesia – para que ele “indique a opção que identifica o número de estrofes e versos que compõem o poema”. Qual a relação dessa questão com a gramática no texto? Com essa questão, o que pretendemos com a disciplina Literatura no ensino médio? Será que é aprender a contar?

Há quase 12 anos na Secretaria de Educação, a Frente Popular nunca proveu um encontro entre professores de Literatura e de Língua Portuguesa para apresentar problemas e soluções. Indiferente a esses profissionais, paga-se a consultores e a professores, por exemplo, de São Paulo e do Rio de Janeiro para que falem enquanto professores estaduais permanecem emudecidos.

Avaliação diagnóstica. Mas quem avalia as ações da secretaria? Não há equívocos? Um deles, este: não ouvir seu corpo docente.

Ronda Gramatical

Nesse feriado santo, a vida de Particípio Regular de Jesus, de 33 anos, transformou-se em um inferno. No conjunto Esperança, seu corpo foi encontrado com um tiro na língua. Pai de cinco filhos, ele era casado com Maria das Virtudes, de 23 anos.

Conforme testemunhas, Leandrinho, elemento que jamais pisou o chão de uma escola, analfabeto de pai, de avô e de bisavô, discutiu com Particípio no bar do Gerúndio depois que o marginal, à margem da gramática, disse que Particípio pagou de forma errada uma dívida.

“Leandrinho disse que ele não tinha pago uma dívida de R$ 20, era uma dívida de sinuca, de um jogo que aconteceu no dia 25 de dezembro do ano passado ”, lembra Everaldo Nunes, um dos que se embriagam no bar.

Quando o marginal disse isso, Particípio perdeu a paciência. “Seu inculto, não é tinha pago, o correto é tinha pagado”, e disse mais. “Você não diz tinha morto, tinha vivo, tinha falo, tinha compro, tinha pago; mas você, seu ignorante, diz tinha morrido, tinha vivido, tinha falado, tinha comprado, tinha pagado.”

Contrariado, sem condições de colocar a mão em Celso Cunha ou em Evanildo Bechara, Leandrinho meteu os dedos em um 38, cano longo. Bastou um tiro na língua para Particípio cair morto. Leandrinho fugiu.

“Não podemos deixar que um marginal, ainda mais ignorante, fique solto depois de matar um pai de família, um trabalhador, um acriano que conhecia muito bem os segredos da gramática”, afirmou o tenente Pasquale.

3 comentários:

Valden disse...

Aldo,

Parabéns pelo seu blog. Estarei adicionando aso meu favoritos.

Valden

lingualingua.blogspot.com disse...

OBRIGADO PELA OBSERVAÇÃO.

Ariana disse...

Perfeito! Adorei artigo sobre avaliação diagnóstica de Redação. Como professora de Língua Portuguesa,Redação e Literatura já havia me questionado sobre a ausência desses conteúdos. O governo exige tanto do profissional da Educação e se esquece, que é ele que ditas as regras dentro de uma sala de aula. Infelizmente, nossos alunos escrevem mal e se quer sabem estruturar um texto dentro do seu gênero textual. Acredito que quem elabora esses projetos nunca entrou numa sala de aula, talvez, por isso, o excesso de utopia.Se diagnóstica a Língua Portuguesa pela Redação, o emissor colocará com certeza, se conhece ou não à norma culta e outros quesitos gramaticais, conhece seu aluno pelo que escreve. Eis a verdade!