quinta-feira, outubro 22, 2009

Comprador de palavras

Você compra papel higiênico para limpar a bunda. Você compra roupa para esconder tua vergonha. Você compra feijão para não passar fome. Mas você não compra palavras para (des)cobrir a vida.










Há anos, sou um comprador de palavras. Tinha 17 anos quando meus olhos conferiram o valor que elas tinham. Eram estranhas como os estrangeiros, diferentes dos ruídos da rua e das superficialidades das novelas. Eram opostas ao meu pai e à minha mãe. Eu não as entendia. Guardei-as como começo de minha biblioteca.

Comprei o que não entendi. Leva tempo para que o comprador amadureça para perceber que palavra não é coisa, produto ou objeto. O proprietário da livraria, sabemos, é comerciante, porém palavra não é mercadoria. Vida, eis o que ela é.

Eu, um mero comprador de palavras aos 17 anos, tive de amadurecer para compreender o meu primeiro livro, onde as palavras, em estado pleno de silêncio, só emitiram vozes com sentido quando meus olhos souberam ler para muito além da aparência.

Até hoje, debruço meus olhos sobre o parapeito de páginas para abrir as palavras e assim dar sentido às paisagens. Abro livros para (des)cobrir por meio de palavras o que a vulgaridade espessa da rua oculta.

Ler Drummond. Neruda. Ler Pessoa. Leminski. Ouvir Caetano. Cazuza. Ler poesia, porque, atrás da aparência, o verso, o outro lado, o que se esconde, revela. O verso desperta e reconvoca por inteiro o nosso puro poder de expressão para além das coisas já ditas ou já vistas.

Assista a "O Carteiro e o Poeta".


2 comentários:

Rebeca Rocha disse...

Acredito que sou uma compradora de palavras que, aos 15 anos, também não compreendo muita coisa, mas creio que nada melhor para o amadurecimento do que o tempo.

Anônimo disse...

Gente teve um assalto aqui em Feijó, na agencia do Banco do Brasil,elevaram o gerente, e mais dois funcionario da agencia.