segunda-feira, outubro 05, 2009

Qualidade de ensino

Quando meus olhos debruçaram-se sobre as redações de meus alunos do segundo ano do ensino médio, percebi com muita clareza que nas séries anteriores seus textos jamais foram refeitos em sala de aula. "Professor, eu nunca estudei dessa maneira redação", compara um aluno.

Neste semestre, apresentei a eles a proposta de redação do Enem de 2005. Não comentei, só entreguei. Não houve uma só redação que usasse os dados da proposta.

Em um segundo momento, retirei com eles as ideias principais e a relação entre essas ideias. Além disso, por estar submersa no texto, coloquei uma informação na superfície. Depois disso, iniciaram-se escrita e reescrita.

A princípio, colocar números, uma região brasileira, o jornal "O Globo" e o IBGE na introdução deveria ter sido tarefa simples mas não foi. Para colocar na ordem, precisei de quase 16 aulas, e alguns não conseguiram.

Rayana Souza conseguiu após ter reescrito várias vezes. Em 4 de setembro, ela escreveu:

"O trabalho infantil hoje em nossa sociedade é cada dia mais comum. Famílias que não tem uma estabilidade financeira acabam colocando as crianças para trabalharem nos sinais vendendo bala, limpando vidros de carros e algumas chegam até à prostituição."

Escreveu e reescreveu. Escreveu e reescreveu. Após as minhas tantas observações, o seu texto ficou assim:

"Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados pelo jornal 'O Globo' em 11 de maio de 2004, 5.438 milhões de crianças e de adolescentes submetem-se ao trabalho escravo nesta 'Pátria amada'. O Nordeste, região mais religiosa do país, possui o maior índice de exploração, 2.296 milhões (42.2%). O poder público, por sua vez, não atua como deveria."

Quando leio um texto desse após muitas tentativas de uma aluna, peço a Deus sabedoria e esforço incansável para transformar a vida (textual) de meus alunos.

Não tenho tempo para reclamar de meus alunos. Professor que reclama de aluno assemelha-se a um médico que reclama de um paciente por estar enfermo.

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