sábado, abril 17, 2010

Operação Nota Azul

A escola Heloísa Mourão Marques parou suas atividades. Minha proposta tinha sido assinar o ponto para não haver reposição de aula e, depois, em sala de aula, não lecionar, e, como estamos em período de avaliação, as provas seriam objetivas, isto é, dez questões fáceis para o aluno marcar X.

O que o governo espera do professor em sala de aula, nós negaríamos o governo entre as quatro paredes, ou seja, nada de leitura, nada de texto, nada de letramento, nada de qualidade de ensino. O nome dessa desobediência civil seria “operação nota azul”. Como canta o talentoso grupo Los Poronga, "criando atalhos a golpes de insatisfações, faço escultura em luz de lampião, (...). Tudo ao contrário então."

Diante de câmeras de tevê, representantes do sindicato, movidos pela inteligência e por um bom português, diriam:

- Nós, professores, estamos em sala negando o que o poder deseja de nós. No lugar de dizer o que esperam de nós, diremos que ler não é importante, que estudar não é importante, que ser professor não é importante. Nossa greve não é parar a escola, mas fazer com que o aluno pare de pensar, por exemplo, por meio de provas objetivas fáceis.

Gosto do pensamento anarquista porque nega o sistema dentro dele. Martin Luther King [1929-1968] e Mahatma Gandhi [1869-1948], por exemplo, realizaram ações conforme o pensamento anárquico.

Nos ônibus, os negros só podiam se sentar atrás, nas últimas cadeiras. Na frente, o negro deveria ceder o espaço ao branco. Luther King percebeu que uma maioria negra pagava passagens. Sendo assim, por meio de uma ótima comunicação, os negros foram convencidos a não entrar em ônibus. Eles andariam a pé. Os empresários sentiram no bolso o prejuízo porque a greve materializou um prejuízo.

Quando os ingleses desejaram mudar o modo de se vestir dos indianos, Gandhi propôs ao povo tecer sua própria roupa. As fábricas inglesas faliram.

Mas é impossível propor o novo quando entre meus pares circula há anos um discurso sindical envelhecido. O que é velho, sabemos, merece todo respeito, não é verdade?

No pensamento sindical, é preciso criar o fato visível, a sociedade precisa ver pela tevê que os professores pararam as aulas. O sindicato quer medir força com o governo, precisa mostrar que as escolas pararam. Quem pode mais? Da forma como as coisas estão colocadas, o governo.

A hegemonia da informação

Depois de uma minoria aprovar uma greve por tempo indeterminado, inicia-se a guerra de informação entre o governo e o Sindicato dos Professores Licenciados do Acre (Sinplac).

A questão aqui não se reduz a dizer que o governo tem a imprensa rio-branquense na mão, mas admitir por meio de uma autocrítica que o Sinplac não criou até hoje um jornalismo sindical eficaz e inteligente.

O sindicato não possui força informativa. Suas palavras, imprensas em panfletos, ecoam na contramão da história moderna. No panfleto, a palavra sindical é tarefeira, obreira, autômata; não é palavra persuasiva.

Como se ainda não fosse pouco, o sindicato não tem programa de rádio criado – eu disse “criado” – por ótimos profissionais da área e, se tivesse, seria muito malfeito por sindicalistas que ignoram a “sedução de comunicar”.

Quando se trata de informação, a luta será entre profissionais (o governo) e os amadores (o sindicato). Não aprendemos com o tempo.

Um comentário:

Rebeca Rocha disse...

"Operação nota azul"?
Interessante, muito interessante.