segunda-feira, agosto 16, 2010

Não falta mais...

Tempo. Não queria deixar minhas aulas, mas o meu corpo dá sinais de que ele chegou a um limite. Não sei quando voltarei, se é que voltarei, a única verdade é que o Tempo, esse senhor silencioso, aponta para outra direção, e eu, obediente que sou, sei que ele sempre tem razão.

O Tempo não nos dá escolha porque Ele sabe que nós perdemos Tempo na vida com coisas poucas, por exemplo, quando não entramos em sala para transformar a vida de nosso aluno, expondo a uma turma a mais densa apatia pelo ato (nobre) de lecionar.

Perdemos Tempo quando só sabemos reclamar de alunos, acreditando que eles são incapazes, burros, tolos. Perdemos Tempo quando a palavra do professor não é autoridade para colocar a ordem e a brincadeira.

Mas o Tempo sempre impõe a nós o seu limite de morte, de despedida, de fim, é quando percebemos tarde que dedicamos o nosso Tempo a não exigir de nós o melhor para o nosso semelhante em sala de aula.

Quem foi meu aluno sabe que eu nunca perdi Tempo com eles.

Agoa é Tempo de deixá-los. Fora de sala, sentirei saudade dos dias dedicados ao ato nobre e bricalhão de lecionar. Quando deixo de ser professor, quando sou obrigado a me afastar de minha profissão, vivo menos porque deixo de aprender.

No fundo, minhas aulas sempre foram, primeiro, para mim; sempre foram um meio para eu acreditar na vida, para eu acreditar em meu semelhante, porque, em sala de aula, na condição rígida e alegre de professor de Literatura, descobri desde cedo que a palavra (bem)dita promove a alegria do encontro e a descoberta da reflexão.

Lecionar é precisar do outro e ser querido pelo outro.

Um comentário:

Nielsen O. Macambira Braga disse...

Te entendo perfeitamente. A sala é prá mim, como deve ser também para você, o que o palco é para o artista. Precisamos da sala de aula para não perder a noção da realidade (pouco amistosa) que nos rodeia, especialmente escolas públicas, onde o aluno está tão carente de quem lhe dê um norte que por vezes nos emociona em sua busca insana por referências num mundo cada dia mais individualista e sem referências com conteúdo, apenas 'celebridades' acéfalas... Nosso Acre então, é de dar dó... Uma vez professor, sempre professor... Dia desses até em palestras 'motivacionais' que somos obrigados a engolir goela abaixo como parte de reuniões e planejamentos pedagógicos, percebi que o palestrante tinha boas intenções, queria mesmo 'motivar' sua audiência, mas me bombardeava os ouvidos a cada cinco minutos com erros imperdoáveis de português (rezistro=registro, gonvernador=governador, endecente=indecente)e até inglês (lêisi=laser, léit=light, capisluk=capslock), num esforço para soar moderno talvez. Quer saber, vá sem culpa, cuide-se, pois o que fazemos é facultado a qualquer um hoje em dia. Ao adoecer, o professor é só um item a ser logo substituído na segunda-feira seguinte mediante solicitação de diretores e coordenadores que por vezes são uns ressentidos e invejosos (constatação 100% verdadeira: nossos superiores são sempre mais ignorantes que nós, mas temos de tratá-los como se não o fossem), somos só uma peça nessa engrenagem mal-asseada que é sempre determinada por um sistema de Q.I.(quem indica). Acabei fazendo uma catarse e não um comentário. Me perdoe. É que gosto muito do seu texto e percebo sempre coisas que os outros passam por alto ou ficam só na superfície.