Tempo. Não queria deixar minhas aulas, mas o meu corpo dá sinais de que ele chegou a um limite. Não sei quando voltarei, se é que voltarei, a única verdade é que o Tempo, esse senhor silencioso, aponta para outra direção, e eu, obediente que sou, sei que ele sempre tem razão.O Tempo não nos dá escolha porque Ele sabe que nós perdemos Tempo na vida com coisas poucas, por exemplo, quando não entramos em sala para transformar a vida de nosso aluno, expondo a uma turma a mais densa apatia pelo ato (nobre) de lecionar.
Perdemos Tempo quando só sabemos reclamar de alunos, acreditando que eles são incapazes, burros, tolos. Perdemos Tempo quando a palavra do professor não é autoridade para colocar a ordem e a brincadeira.
Mas o Tempo sempre impõe a nós o seu limite de morte, de despedida, de fim, é quando percebemos tarde que dedicamos o nosso Tempo a não exigir de nós o melhor para o nosso semelhante em sala de aula.
Quem foi meu aluno sabe que eu nunca perdi Tempo com eles.
Agoa é Tempo de deixá-los. Fora de sala, sentirei saudade dos dias dedicados ao ato nobre e bricalhão de lecionar. Quando deixo de ser professor, quando sou obrigado a me afastar de minha profissão, vivo menos porque deixo de aprender.
No fundo, minhas aulas sempre foram, primeiro, para mim; sempre foram um meio para eu acreditar na vida, para eu acreditar em meu semelhante, porque, em sala de aula, na condição rígida e alegre de professor de Literatura, descobri desde cedo que a palavra (bem)dita promove a alegria do encontro e a descoberta da reflexão.
Lecionar é precisar do outro e ser querido pelo outro.
Um comentário:
Te entendo perfeitamente. A sala é prá mim, como deve ser também para você, o que o palco é para o artista. Precisamos da sala de aula para não perder a noção da realidade (pouco amistosa) que nos rodeia, especialmente escolas públicas, onde o aluno está tão carente de quem lhe dê um norte que por vezes nos emociona em sua busca insana por referências num mundo cada dia mais individualista e sem referências com conteúdo, apenas 'celebridades' acéfalas... Nosso Acre então, é de dar dó... Uma vez professor, sempre professor... Dia desses até em palestras 'motivacionais' que somos obrigados a engolir goela abaixo como parte de reuniões e planejamentos pedagógicos, percebi que o palestrante tinha boas intenções, queria mesmo 'motivar' sua audiência, mas me bombardeava os ouvidos a cada cinco minutos com erros imperdoáveis de português (rezistro=registro, gonvernador=governador, endecente=indecente)e até inglês (lêisi=laser, léit=light, capisluk=capslock), num esforço para soar moderno talvez. Quer saber, vá sem culpa, cuide-se, pois o que fazemos é facultado a qualquer um hoje em dia. Ao adoecer, o professor é só um item a ser logo substituído na segunda-feira seguinte mediante solicitação de diretores e coordenadores que por vezes são uns ressentidos e invejosos (constatação 100% verdadeira: nossos superiores são sempre mais ignorantes que nós, mas temos de tratá-los como se não o fossem), somos só uma peça nessa engrenagem mal-asseada que é sempre determinada por um sistema de Q.I.(quem indica). Acabei fazendo uma catarse e não um comentário. Me perdoe. É que gosto muito do seu texto e percebo sempre coisas que os outros passam por alto ou ficam só na superfície.
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