domingo, dezembro 30, 2012

Deus também tem seu próprio inferno

Quando ouvi pela televisão o ritmo funk a serviço do lucro gospel, fiquei imaginando Jesus Cristo no palco cantando e balançando o corpo.

Se o mercado religioso permanecer assim, o Messias não virá sentado à mão direita de Deus, mas descerá dos céus catando um hits divino ao microfone celeste. Jesus agora é pop. E, se é pop, se é funk, Jesus é profano.

A coisa está tão insólita que uma pastora vende xampu com esta marca: Jesus, ou seja,  o Salvador deixa seus cabelos mais sedosos.

Como escreveu Nietzsche, Deus também tem seu próprio inferno, que é amar aos homens.

O Jesus amado por mim não dança funk e muito menos canta em palcos. O meu Jesus é o Senhor de palavras que eu leio no livro "Teologia da Libertação".

Creio em um Jesus acolhido pelos livros de Leonardo Boff, de frei Beto, do rabino Nilton Bonder.

A oração ao meu Jesus é poesia de Carlos Drummond de Andrade.



Profetizo manhãs para os que saibam
haurir o mel, a flor, a cor do céu.
O mar darei a todos, de presente,
junto à praia, e o crepúsculo sinfônico
pulsando sobre os montes. Um vestido
estival, clarocarne, passará,
passarino, aqui, ali, e quantos ritmos
um pisar de mulher irá criando
na pauta de teu dia, meu irmão.

Oráculo paroquial, a meus amigos
e aos amigos de outros ofereço
o doce instante, a trégua entre cuidados,
um brincar de meninos na varanda
que abre para alvíssimos lugares
onde tudo que existe, existe em paz.

  

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