terça-feira, julho 23, 2013

Cadáver sindical


Depois desta última “greve” dos professores - conceito mal empregado, por isso eu chamo de “reposição de aula” -, alargou-se mais ainda a distância entre docentes e dirigentes sindicais, cuja fissura no Acre iniciou-se no final do século passado, quando professores romperam com Cláudio Ezequiel, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Acre (Sinteac), para criar o Sindicato dos Professores Licenciados do Acre, o Sinplac.

Após as vaias em 18 de julho à presidenta do Sinplac, Alcilene Gurgel, no Colégio Estadual Rio Branco, essa distância não só aumentou como a fenda tornou-se mais profunda. Em termos de organização de professores, o Acre vive hoje uma crise profunda de representação sindical, marcada por dirigentes que usam a estrutura sindical para fazer o jogo ambíguo dos pelegos, que usam essa estrutura para servir a interesses partidários e que a usam para projetar suas candidaturas às eleições. Por causa disso e de muito mais, sindicalista não é professor, o professor é apenas um meio.

Quem anda por Rio Branco pode se deparar com sindicalista usando carro do sindicato para fazer suas compras em loja de roupa ou então sindicalista que consegue favores do governo para seu cosanguíneo se empregar sem se submeter a um concurso público. Pouco?

Sindicalista da educação não contrata empresa para realizar auditoria anual em conta de sindicato a fim de expor ao professor-contribuinte finanças limpas, corretas. Muito diferente disso, sindicato empresta dinheiro ao próprio sindicalista ou aos amigos como se a organização sindical fosse banco. A contabilidade sindical obedece às regras ilegais de um balancete que serve, primeiro, a sindicalistas, a partidos e a amigos.

Sinteac e Sinplac só não abrem falência porque funcionam como empresas paraestatais, isto é, o contribuinte sustenta tudo, banca qualquer irracionalidade administrativa. Mais: ele e ela desejam ser sindicalistas para receber todo mês sem precisar trabalhar em sala de aula e muito menos trabalhar no sindicato. Sindicalista não trabalha em nome do coletivo; sindicalista usa os professores para se promover à vida pública.

Obreiro de seus interesses pessoais, sindicalista é aquele elemento que saiu da sala de aula para ser, um dia, à custa dos professores, burocrata da máquina pública, pois tudo o que ele deseja é trabalhar bem menos e ganhar bem mais, sem diário de classe, sem 40 alunos em sala de aula, sem corrigir provas e mais provas no final de semana.



Sindicalista da educação não é professor. O que ele é então? qual sua definição? Sindicalista é “ser um deles”, porque, da forma como ele usa o dinheiro dos professores, da forma como ele se acomoda na organização sindical, ele, que não representa os professores, deseja “ser um deles”. Muitos não percebem, mas sindicalista é um estranho entre nós, os professores, somos nós quem leciona em muitas salas de aula.
Precisamos reinventar a organização docente do Acre para ontem. Tenho medo de chegarmos ao final do século 21 com professores olhando o futuro pelo retrovisor, porque é assim que sindicalista olha o amanhã.


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