terça-feira, julho 14, 2015

A morte do infantil

 


MC Melody, 8 anos, canta
"e te confesso que um beijo já me desperta o desejo"


MC Vilãozin, 6 anos, canta
"senta com a pepeca"

Um trecho do meu artigo a ser publicado pela UERJ
Obs: neste espaço, ele está fragmentado.

Nesses tempos tão sérios e pilhados de coisas úteis, escrever sobre o bobo e sobre o palhaço é escrever sobre cadáveres, inutilidades sepultadas por crianças na cova rasa da indigência. 

O mundo infantil nem reconhece mais seus defuntos. Crianças agora são acolhidas pela estética agradável do shopping, onde o consumo alegra crianças neste templo mítico de PlayStation, de tablete, de Iphone, de marcas. 

Alegria, entretenimento utilitário. A criança, pequeno proprietário. Ela não assiste mais à invenção do mundo e muito menos o inventa, utiliza-o; pois, sem saber o que é o palhaço e muito menos o que ele conta, o adulto presenteia a inocência com gestos sem encontros, sem o imprevisível, sem aventura, gestos sem a fantasia. 

Para o bebê que chora por não querer comer, a mãe ameaça chamar o palhaço, por isso, quem sabe, a pequena Larissa de Macedo Machado tenha confessado que, quando criança, sentia muito medo de palhaço, até hoje Anitta se assusta com suas cores, suas formas, seu riso, suas brincadeiras. 

Crianças se alegram agora ao som do funk pornô (“senta com a pepeca”) de MC Vilãozin, de 6 anos, e do funk sensual (“e te confesso que um beijo já me desperta o desejo) de MC Melody, de 8 anos. A infância não se identifica mais com a inocência do palhaço.

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